terça-feira, 31 de maio de 2011

A HOMOSSEXUALIDADE E A RELIGIÃO SEGUNDO FREI BETTO

Por Thonny Hawany

QUEM É FREI BETTO? Frei Betto (foto) é escritor e religioso dominicano brasileiro, é filho do jornalista Antônio Carlos Vieira Christo e da escritora e culinarista Maria Stella Libanio Christi. É adepto da Teologia da Libertação e militante de movimentos sociais. Frei Beto foi assessor especial do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também foi um dos coordenadores de Mobilização Social do programa Fome Zero do Governo do Brasil. Frei Betto recebeu, merecidamente, diversos prêmios por sua considerável atuação em favor dos direitos humanos e dos movimentos populares.

Por que estou apresentando Frei Betto? Simples. Logo abaixo postarei um texto em que ele fala a respeito de homossexualidade, religião e política de forma bastante sóbria, acadêmica e oportuna para a época em que estamos vivendo. Quando publiquei o texto do pastor Ricardo Gondim, outra grande autoridade religiosa brasileira, um anônimo disse que o texto era de um falso pastor e deixou lá um texto medíocre dizendo que aquele que ele sugeria sim, era de um pastor de verdade. Até agora não sei exatamente o que é que ele chamou de pastor de verdade. Mas deixa isso para lá. O importante é que vou abrir espaço, no meu blog, para mais um grande texto escrito por uma grande autoridade religiosa: Frei Betto.

Então conforme prometido, abaixo está o texto “Os gays e a Bíblia” de Frei Betto para que você, meu caro leitor, possa tirar as suas próprias conclusões. Reflita e veja o quanto de injustiça os fundamentalistas religiosos e políticos estão fazendo com a comunidade LGBT ao nos negar direitos.

OS GAYS E A BÍBLIA

Frei Betto,
em Amai-vos

É no mínimo surpreendente constatar as pressões sobre o Senado para evitar a lei que criminaliza a homofobia. Sofrem de amnésia os que insistem em segregar, discriminar, satanizar e condenar os casais homoafetivos.

No tempo de Jesus, os segregados eram os pagãos, os doentes, os que exerciam determinadas atividades profissionais, como açougueiros e fiscais de renda. Com todos esses Jesus teve uma atitude inclusiva. Mais tarde, vitimizaram indígenas, negros, hereges e judeus. Hoje, homossexuais, muçulmanos e migrantes pobres (incluídas as “pessoas diferenciadas”…).

Relações entre pessoas do mesmo sexo ainda são ilegais em mais de 80 nações. Em alguns países islâmicos elas são punidas com castigos físicos ou pena de morte (Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Nigéria etc).

No 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 2008, 27 países membros da União Europeia assinaram resolução à ONU pela “despenalização universal da homossexualidade”.

A Igreja Católica deu um pequeno passo adiante ao incluir no seu Catecismo a exigência de se evitar qualquer discriminação a homossexuais. No entanto, silenciam as autoridades eclesiásticas quando se trata de se pronunciar contra a homofobia. E, no entanto, se escutou sua discordância à decisão do STF ao aprovar o direito de união civil dos homoafetivos.

Ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina.

São alarmantes os índices de agressões e assassinatos de homossexuais no Brasil. A urgência de uma lei contra a homofobia não se justifica apenas pela violência física sofrida por travestis, transexuais, lésbicas etc. Mais grave é a violência simbólica, que instaura procedimento social e fomenta a cultura da satanização.

A Igreja Católica já não condena homossexuais, mas impede que eles manifestem o seu amor por pessoas do mesmo sexo. Ora, todo amor não decorre de Deus? Não diz a Carta de João (I,7) que “quem ama conhece a Deus” (observe que João não diz que quem conhece a Deus ama…).

Por que fingir ignorar que o amor exige união e querer que essa união permaneça à margem da lei? No matrimônio são os noivos os verdadeiros ministros. E não o padre, como muitos imaginam. Pode a teologia negar a essencial sacramentalidade da união de duas pessoas que se amam, ainda que do mesmo sexo?

Ora, direis ouvir a Bíblia! Sim, no contexto patriarcal em que foi escrita seria estranho aprovar o homossexualismo. Mas muitas passagens o subtendem, como o amor entre Davi por Jônatas (I Samuel 18), o centurião romano interessado na cura de seu servo (Lucas 7) e os “eunucos de nascença” (Mateus 19). E a tomar a Bíblia literalmente, teríamos que passar ao fio da espada todos que professam crenças diferentes da nossa e odiar pai e mãe para verdadeiramente seguir a Jesus.

Há que passar da hermenêutica singularizadora para a hermenêutica pluralizadora. Ontem, a Igreja Católica acusava os judeus de assassinos de Jesus; condenava ao limbo crianças mortas sem batismo; considerava legítima a escravidão e censurava o empréstimo a juros. Por que excluir casais homoafetivos de direitos civis e religiosos?

Pecado é aceitar os mecanismos de exclusão e selecionar seres humanos por fatores biológicos, raciais, étnicos ou sexuais. Todos são filhos amados por Deus. Todos têm como vocação essencial amar e ser amados. A lei é feita para a pessoa, insiste Jesus, e não a pessoa para a lei

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