terça-feira, 8 de agosto de 2023

AULA INAUGURAL DO ẸKỌ́ ÈDÈ YORÙBÁ

No último dia 07 de agosto de 2023, deu-se início à primeira turma do curso Ẹ̀kọ́ Èdè Yorùbá, ministrado pelo olùkọ́ e bàbálórìṣà Thonny Hawany, como projeto de extensão vinculado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IFBAIANO), Campus Bom Jesus da Lapa.

A aula inaugural foi mediada pela servidora Valdineia Antunes Alves Ramos e contou com as presenças do diretor geral do Campus Bom Jesus da Lapa, professor Geângelo de Matos Rosa; do coordenador de extensão, Junio Batista Custódio; do pastor batista da cidade de Porto Velho (Rondônia), Moises Selva Santiago, o qual falou como ex-aluno do curso e entusiasta do projeto. Além da equipe formada pelas mediadoras Amanda Jardim, Mísia Nunes e pela estudante bolsista Carla Silva, o evento contou com a presença de diversos estudantes oriundos de diferentes regiões do Brasil.

Em sua breve fala, o professor Geângelo Rosa afirmou que o projeto representa um marco na relação entre o Campus Bom Jesus da Lapa e as comunidades tradicionais (Quilombolas e Povo de Terreiro) existentes no território. O coordenador de extensão Júnio Batista, por sua vez, deixou registrado seu entusiasmo com os objetivos e metas do projeto Ẹ̀kọ́ Èdè Yorùbá e também afirmou que a proposta abre portas para trabalhos mais profícuos envolvendo o setor de Extensão do IF Baiano e as comunidades tradicionais radicadas no Território Velho Chico. 

O professor Thonny Hawany, coordenador do projeto, registrou que “o Ẹ̀kọ́ Èdè Yorùbá é um curso de língua iorubá básica, na modalidade EaD, que abrangerá conteúdos básicos de história do povo iorubá, sua geografia e estudos elementares de gramática compreendendo o alfabeto, a fonética, a morfologia, a sintaxe, a semântica, a estilística, frases do cotidiano e a produção de pequenos textos. 

Depois das apresentações inicias, a aula inaugural avançou para a segunda fase, na qual foi feita a ambientação EaD dos estudantes e a ministração dos primeiros conteúdos sobre fonética e fonologia da língua iorubá, com ênfase para o alfabeto e os sons da língua. Na sequência, foram apresentadas algumas principais formas de cumprimentos e saudações e noções de tradução de textos do iorubá para o português. 

Para saber mais e acompanhar um pouco da experiência que foi o evento, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=sQJsMlquB2M&t=623s



sexta-feira, 28 de julho de 2023

SINAIS DIACRÍTICOS OU NOTAÇÕES LEXICAIS DE LÍNGUA IORUBÁ

 

Por Thonny Hawany


O que são notações lexicais? São todos os sinais gráficos utilizados na escrita das palavras de uma língua e se diferem das letras. São os acentos e outros sinais que ajudam a modificar a entonação, o som e outros aspectos fonológicos de um idioma.

Em iorubá, os sinais diacríticos ou notações lexicais são chamados de àmi. Os àmi são fundamentais para a compreensão da língua haja vista que o iorubá é um idioma tonal e está na entonação das sílabas a chave para a preensão dos vocábulos.

São os sinais diacríticos da língua iorubá:

1) àmi òkè ( ´ )

Indica a entonação alta.

Exemplos:

Ìfẹ́: querido

ọlá: honra

ọ̀rẹ́: amigo

2) àmi ìsàlẹ̀

Indica a entonação mais baixa.

Exemplos:

àdúrà: reza, oração

ọ̀gẹ̀dẹ̀: banana

Òrìṣà: divindade

3) àmi óhún

Indica a entonação média.

Exemplos:

ata: pimenta

ej̣a: peixe

ohun: coisa

 

4) àmi fãgún ( ~ ou - )

 

(Sinal raro)

Indica a combinação de duas vogais que devem ser pronunciadas com prolongamento na voz.

Exemplos:

fãgún: nivelar /fáàgún/

5. àmi lábẹ́* ( ẹ, ọ, ṣ )

Modifica a pronúncia da letra: ẹ como em café, ọ como em cipó e ṣ tem o som de x como em lixo

Exemplos:

ẹ̀gbẹ́: sociedade

ọ̀gá: mestre

àṣẹ: força, poder

  ̣

A troca de um àmi por outro ou a falta dele ao escrever uma palavra pode causar erros irreparáveis em língua iorubá. Exemplos:

Àṣẹ: força, poder

Àṣẹ́: menstruação

Ase: um animal roedor da família do esquilo

Àsè: refeição, entretenimento, festa

Asé: coador

Havendo tomado os cuidados necessários, não há erro, iorubá é prática, é preciso experimentar ainda que falando consigo mesmo. O bom é ter uma pessoa com conhecimento igual para praticar a interação comunicacional. Sucesso e bons estudos!

Referencial:

BENISTE, José. Dicionário yorubá português. 2. ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.

PORTUGUAL FILHO, Fernandes. Vamos falar yorùbá: introdução ao idioma dos Orixás – gramática, exercícios, dialógicos e minidicionário. São Paulo: Arole Cultural, 2020.

* Nome dado por mim ao ponto colocado debaixo das letras ẹ, ọ e ṣ para mudar o som do fonema. 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

EWÉ ỌDÚNDÚN – FOLHA-DA-COSTA

Por Thonny Hawany

O que é?

A folha-da-costa é de origem brasileira e pode ser encontrada de norte a sul e de leste a oeste do Brasil. A folha-da-costa é utilizada para os fundamentos de todos os orixás ligados ao processo de criação (àwọn òrìṣà funfun). Trata-se de uma folha utilizada nos ritos de iniciação, nos ebós, no bori[1] e na sacralização de alguns animais. Há outras folhas com aspectos semelhantes ao da folha-da-costa, fato que a faz ser confundida, principalmente, com a folha àbámodá (milagre-de-são-joaquim, folha da fortuna). Ọdúndún e àbámodá são da mesma família, mas de espécies diferentes. Embora sejam muito parecidas, os pequenos detalhes não escapam aos olhos de um especialista atento. A folha-da-costa tem as bordas quase lisas, enquanto a folha milagre-de-são-joaquim, que também é chamada de folha da fortuna, possui as bordas denteadas e roxeadas (SANTOS, p.101).

Nomes populares: folha-da-costa

Dados científicos: Divisão magnoliophyta, classe magnoliopsida, odem saxifragales, família crassulaceae, gênero kalanchae, espécie brasiliensis, nome científico: kalanchae brasiliensis.  

Nome iorubá: ewé ọdúndún

Orixás associados: Òsàlà[2]

Elemento(s) associado(s): água

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: Folha que glorifica, ilumina os iniciados, purifica o corpo, a mente e o espírito, protegendo-os de todos os males, inclusive de si mesmos. Segundo Mãe Stella (2014, p. 101), “a folha-da-costa ensina comportamentos fundamentais para que o iniciado não enlouqueça: silêncio, amadurecimento, obediência aos mais velhos e ao sagrado”.

Cantiga(s) / Encantamento(s):

Cantiga 1:

Solo:

Loju dé

Coro:

Àwa ṣe re re

Loju dé o

Àwa ṣe re re

Solo:

Àgbaó

Coro:

Ṣògo là ta bò bò wa

Ṣògo là ta

Solo:

Ewé Ọdúndún

Coro:

Ṣe ré kúbúsú bò bò wa

Ṣe ré kúbúsú

Tradução:

Solo: O senhor que tudo vê nos cobriu.

Coro: Nós agimos trocando o cabelo (renascemos com a iniciação) e mudando a pele (renovando-nos). O Senhor que tudo vê nos cobriu. Nós agimos trocando o cabelo e mudando a pele.

Solo: Imbaúba!

Coro: Glorificamo-nos, purificamos, iniciados e iluminados; ricos de folhagens, cobertos e protegidos por Imbaúba.

Solo: Folha-da-costa

Coro: Fomos cobertos por um cobertor rico em folhas, somos protegidos por folha-da-costa.

Observação: A cantiga acima foi retirada da obra “O que as folhas cantam”, escrita por Santos e Peixoto (2014, p. 100). Conforme está escrito na mesma obra, Ọdúndún é cantada juntamente com àgbaó (folha da imbaúba).

Cantiga 2:

Solo:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Coro:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Tradução:

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

O pai que nos une e nos protege.

Certamente nos une e nos protege

Funções sagradas no Candomblé: Ọdúndún é uma folha de muitas utilidades na religião, para compreender sua importância e a sua dimensão nos atos de iniciação e demais obrigações no Candomblé, é preciso ser de dentro. Explicar com minucias os usos de Ọdúndún é colocar em risco os segredos seculares guardados pelos nossos ancestrais e perpassados, tão somente, na prática e, quase sempre, por meio da oralidade.

Funções fitoterápicas: segundo a nossa experiência no terreiro, a folha-da-costa tem propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, serve para tratamento de infecções urinárias e também para tratamento do aparelho digestivo. A folha-da-costa pode ser utilizada na forma de unguentos, banhos e chás.

Nota importante:

É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças e tratamentos empíricos exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

Referências:

1. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

2. SANTOS, Maria Stella de Azevedo e PEIXOTO, Graziela Domini. O que as folhas cantam (para quem canta folha), Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), 201

Notas finais:

[1] . Ato pelo qual se alimenta a cabeça espiritual (Orí)

[2] . Oxalá

Fonte das imagens: Arquivo pessoal

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

EWÉ ÒWÚ – FOLHA DO ALGODÃO

 Por Thonny Hawany

Conforme está escrito no sítio da AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão, “o algodão é conhecido do homem desde os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade” (online).

O algodoeiro é mesmo uma planta surpreendente, tem boa sombra quando plantado para este fim, tem flores lindas de perfume sutil, veste a humanidade com suas fibras e serve como remédio para o corpo e também para a alma, como veremos mais adiante.

Nomes populares: algodoeiro, algodão-bonito, algodão-de-malta, algodão-herbáceo

Nome científico:  Gossypium L., da família Malvaceae

Nome iorubá: ewé òwú

Orixás associados: Pertence por excelência a Oxalá, mas também a outros orixás da mesma linhagem.

Elemento(s) associado(s): ar

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: equilíbrio entre os elementos feminino e masculino. É uma folha gún (quente). O algodão e o algodoeiro possuem muito prestígio na cultura iorubá, pelo menos dois signos de Ifá tratam do assunto: Òsá e Ogbè-Ògúnda, como se pode ler em Barros e Napoleão (2011, p. 204).

Cantiga / Encantamento:


Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ó ya sábá ni bá ta bá mí

(Ela transborda, abriga, ajuda, ilumina, sacode)

Baba bẹ̀ o!

(Pai, suplica!)

Funções sagradas no Candomblé: o algodão (ewé òwú) é uma folha quente pela qual pedimos proteção para o nosso Orí [1]  e consequentemente para toda a nossa vida. A ewé òwú cobre a nossa cabeça e nos protege contra os nossos inimigos. A folha do algodoeiro é utilizada nos banhos dos obrigacionados e em outros ritos, cujo hunbe [2]  não nos permite descrevê-los aqui.  

Funções fitoterápicas: De modo bem resumido, o chá da folha de algodão é diurético, contribui com a digestão e ajuda na regulação do intestino. Ainda conforme experientes rezadeiras da Região Sudoeste da Bahia, as folhas do algodoeiro também servem para regular o ciclo menstrual.[3]

Referências:

1. História do Algodão. AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão. Disponível em: https://ampa.com.br/historia-do-algodao/. Acesso em 23/02/2023.

2.Ewé òwú. GUNFAREMIM. Disponível em: https://gunfaremim.com/?p=352. Acesso em 23/-2/2-23.

3. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

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[1] . Cabeça, orixá com o qual nascemos todos.

[2] . Educação religiosa para o povo do Candomblé.

[3] . É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

FONTE DAS IMAGENS: Arquivo pessoal