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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A REGIÃO NORTE DO BRASIL ELEGE SUA PRIMEIRA VEREADORA TRANSEXUAL: JORDANA FONSECA FERREIRA

Por Thonny Hawany

Nas eleições de 2016, no pequeno município de Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia, foi eleita a primeira vereadora transexual da Região Norte do Brasil: Jordana Fonseca Ferreira, filiada ao Partido Social Democrático (PSD), Jordana concorreu com mais de 90 candidatos e, em face de sua campanha arrojada contra a corrupção e em favor dos menos favorecidos, chegou em quinto lugar com mais de 500 votos.

Para que o nosso leitor conheça mais sobre Jordana e sua mais recente conquista, abaixo transcrevemos, na integra, a entrevista que fizemos com ela. As palavras entre aspas representam a opinião pessoal e particular da vereadora.

Thonny Hawany: Jordana eu já a conheço há muito tempo e sei que você sempre foi uma mulher muito transparente, mesmo assim eu gostaria que você fizesse um resumo de sua trajetória de vida, ou seja: quem é Jordana Ferreira?

Jordana: “Sou uma pessoa que gosta de viver rodeada de amigos e que gosta de desafios. Procuro sempre algo que me faça. Gosto de testar meus limites, nasci em uma família pobre, desde muito cedo trabalho e pago minhas contas, com 10 anos de idade, comecei a minha vida de empreendedora. Focada nos meus objetivos, comprei a minha casa com apenas 13 anos de idade.”

Thonny Hawany: Jordana, fale-nos a respeito de como você está se sentindo agora que foi eleita vereadora, provavelmente, a primeira vereadora transexual do Estado de Rondônia.

Jordana: “Não venci essa eleição por ser transexual e nem deixei de vencer por ser... Eu sei entrar e sair de todos os lugares. Eu procuro fazer valer a pena. Não dá para fechar os olhos para as dificuldades morando em uma cidade do interior. No início, a minha sexualidade foi posta em destaque, mas a campanha cresceu e pude mostrar que a minha orientação sexual era só um detalhe. Sinto-me realizada... Estou feliz, a minha vitória representa a vitória dos menos favorecidos...”

Thonny Hawany: Jordana, ao que você atribui a sua vitória? Você considera que os eleitores lhe elegeram por voto de protesto ou por acreditarem que você será capaz de fazer algo que os políticos tradicionais não fizeram pela população de Pimenta Bueno?

Jordana: “Eu venho fazendo um trabalho social há muito tempo e acredito que isso influenciou bastante. Sou muito popular e também polêmica. Não creio que tenha tido algum voto de protesto, mas sim de esperança.”

Thonny Hawany: Jordana, quais foram as principais barreiras que você enfrentou nos dias em que se dedicou a sua campanha política para vereadora?

Jordana: “A primeira barreira foi fazer uma política ideologicamente limpa e sem compra de votos. Nos dias de hoje é difícil ser eleita sem usar desses subterfúgios visto que grande parte dos eleitores, especialmente os menos favorecidos, está acostumada com esse tipo de barganha. A segunda barreira foi visitar e pedir votos para pessoas que, em virtude do descaso de anos, estão desacreditadas na política e nos políticos de modo geral. Por fim, a minha sexualidade, no início, representou uma barreira que foi superada com inteligência e bom humor.”

Thonny Hawany: Jordana, considerando o plano que você fez para o seu mandato como vereadora, fale-nos quais serão as suas prioridades.

Jordana: “Procurarei focar na cultura e no esporte, visto que foram os pontos mais esquecidos pelos administradores de Pimenta Bueno nos últimos anos. Acredito que podemos educar nossas crianças para que possam, um dia, fazer a diferença nas urnas e intender o quanto é importante votar com sabedoria e consciência. De igual modo, acredito que a cultura e o esporte fecham as portas para a marginalidade. Assim sendo, minha prioridade é a transformação do futuro cidadão pimentense pela cultura e pelo esporte.”

Thonny Hawany: Jordana, você tem políticas especialmente destinadas a população LGBT?

Jordana: “Eu penso que o fato de ser proativo, empreendedor, alinhado com as questões sociais já fecha um pouco as portas para a homofobia. No tocante à minha cidade, porém, pretendo visitar grandes empresas para fechar acordos e convênios com o proposto de abrir portas para incluir a população LGBT no mundo do trabalho. Na minha visão, a população LGBT não precisa de cotas, mas sim de oportunidades. Nada como uma mãozinha amiga! (rs).”

Thonny Hawany: Jordana, quais serão os principais critérios para a formação da sua equipe de gabinete?

Jordana: “Honestidade, qualificação, transparência e pontualidade... Quero que a minha equipe tenha essas mesmas qualidades que também são minhas.”

Thonny Hawany: Depois do mandado de vereadora em Pimenta Bueno, você tem planos para alçar voos mais altos? Quais?

Jordana: “Não conheço a política internamente, porém, caso eu me sinta adaptada, pretendo ser, no futuro, candidata a deputada estadual... mas isso é só depois que fizer o meu dever de casa em Pimenta Bueno. Fui eleita para ser vereadora de Pimenta Bueno e quero exercer o meu mandado integralmente.”

Thonny Hawany: Jordana, as eleições de 2016 tiveram 82 candidatos trans- por todos o Brasil e poucos desses foram eleitos, que recadinho você manda para esses candidatos ou candidatas amigos que não conseguiram se eleger?

Jordana: “A politica está presente em todas as nossas atitudes, seja para atender aos nossos anseios individuais, seja para atender aos anseios da população em geral. Gostaria que todos os que não foram eleitos aprendessem que é preciso exercer a cidadania,  respeitar as pessoas e, mesmo no salto alto, ser humilde. Não se deve sentir eleita antes de abrir as urnas. Recado a Léo. Respeite as transexuais em geral sem superioridade e sem comentários desnecessários.”

Thonny Hawany: Jordana, muito obrigado pelo carinho com que sempre nos recebe em sua vida. Eu e minha família (Rafael Hawany e Jefferson Hawany) sentimo-nos representados por você.

Jordana: Eu é que agradeço a você e a sua família, meu amigo. Espero fazer um mandato ouvindo os de fora para corrigir os de dentro.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PRISCILA GARCIA E SUAS IMPRESSÕES SOBRE A II CONFERÊNCIA NACIONAL LGBT

Por Thonny Hawany

Priscila da Cunha Garcia, heterossexual, é aluna do 7º período de Psicologia da FACIMED, Cacoal, Rondônia, tem 23 anos e, há pouco tempo, passou a se dedicar a estudos relacionados à homossexualidade: conceitos, fundamentos e comportamentos. Priscila estava entre as poucas pessoas que representaram o interior do Estado de Rondônia na 2ª Conferência Nacional LGBT e, por isso, resolvi colher sua impressão a respeito do evento, fazendo-lhe uma entrevista. Deste modo, acredito, que a população LGBT de Rondônia que não participou da conferência poderá conhecer um pouco mais de tudo o que Priscila viu e vivenciou por lá.

THONNY HAWANY: Qual o seu interesse em participar de eventos e conferências LGBT?

PRISCILA GARCIA: Na verdade eu não tinha nenhum conhecimento na área, não sabia nada sobre os movimentos e as lutas que a população LGBT trava em favor de seus direitos. Depois de um convite de um professor da faculdade pra participar da conferência LGBT em Cacoal, passei a me interessar muito por todos os eventos e conferências. As minhas dúvidas sobre o assunto começaram a se dissiparem e passei a acredito muito que cada um tem o direito de ter a sua orientação sexual e a ser respeitado da forma como é. Na minha humilde opinião e como futura psicóloga, acredito que nenhuma profissão deve discriminar o indivíduo pelo que ele é. Não deve haver preconceito de forma alguma. Eu tenho me colocado sempre na condição de aprendiz com o propósito de no futuro poder contribuir de alguma forma com a população LGBT. Especialmente, ajudando os indivíduos LGBT dirimirem seus conflitos. Quero trabalhar diretamente com os indivíduos e com as famílias que sofrem por não aceitarem seus filhos e filhas como nasceram.

THONNY HAWANY: Você participou da conferência em Cacoal, em PVH e em Brasília? Faça um pequeno resumo de cada uma delas.

PRISCILA GARCIA: Participei sim de todas elas. Em Cacoal foi muito bom, porém como eu ainda não tinha conhecimento de quais eram as lutas e os movimentos existentes, fiquei meio por fora, mais deu para aprender muitas coisa e ter um embasamento para os eventos maiores. Em Porto Velho, pude avançar e conhecer muito mais sobre a comunidade LGBT. Imaginem que eu não sabia que a população LGBT sofria tanto preconceito.
Eu acredito que como todo cidadão tem seus direitos e deveres, os LGBT têm também que procurar pelos seus direitos, pois pagam impostos como todo mundo e também têm que exigir respeito e cidadania por todos.
A conferência de Brasília foi algo maravilhoso. Lá pude perceber que a luta em favor da dignidade LGBT não é pouca. No entanto, acredito que da forma como o movimento vem trabalhando com seriedade poderá alcançar muitas conquistas. A conferência abrangeu todos os temas que eu acredito ser importantes.

THONNY HAWANY: Qual foi sua impressão geral sobre a conferência nacional? Houve avanços?

PRISCILA GARCIA: Essa é uma questão que, infelizmente, por não ter participado da primeira conferência, não posso avaliar se houve ou não avanços. Posso dizer que foram realizados muitos trabalhos e discussões com o propósito de alcançar melhorias futuras para a comunidade LGBT. Como eu disse, a luta parece séria e contínua. Eu nunca tinha participado antes de um evento LGBT. Ainda estou aprendendo, mas posso adiantar que os temas discutidos nas conferências municipal e estadual foram levados e postos em discussão na nacional com o propósito de torná-los ações efetivas.

THONNY HAWANY: Você participou de que eixo de discussão? Comente sobre os resultados.

PRISCILA GARCIA: Eu participei do tema Enfrentamento ao Machismo e ao Racismo, Promoção da Igualdade Racial e Políticas de Juventude. Houve muita discussão nesse GT (grupo de trabalho). Foram discutidas as propostas formuladas nos estados, as quais sofreram algumas adequações para se adaptarem à realidade nacional antes de serem aprovadas. Posso dizer que o grupo avançou nas discussões, escolheu e votou propostas que fossem capazes de se efetivarem no enfrentamento ao machismo e ao racismo, promoção da igualdade racial e políticas da juventude.

THONNY HAWANY: Quais temas foram mais discutidos na conferência como um todo?

PRISCILA GARCIA: Os temas nos grupos foram os seguintes: Poder Legislativo e Direitos da População LGBT; Saúde; Cultura, Turismo, Esporte e Comunicação Social; Educação; Combate à Miséria, Desenvolvimento Social, Trabalho, Geração de Renda e Previdência Social; Sistema de Justiça, Segurança Pública e Combate a Violência; Enfrentamento ao Machismo e ao Racismo, promoção da Igualdade Racial e políticas de Juventude; pacto Federativo e Articulação Orçamentária; Direitos Humanos e Participação Social. Todos os temas foram bem discutidos, havia muitas propostas de Rondônia nos temas discutidos. Mas o tema mais discutido em todos os sentidos foi a aprovação do PLC 122, lei que criminaliza a homofobia, ou seja, o crime de ódio contra a população LGBT.

THONNY HAWANY: O que você espera, com base nas discussões que você participou, para os próximos anos em se tratando de políticas públicas para LGBT.

PRISCILA GARCIA: Com base nas discussões que participei e em tudo o que presenciei na II Conferência, acredito que haverá muitos avanços em se tratando de políticas públicas para LGBT nos próximos anos. Ao menos, os representantes do Governo Brasileiro que lá estavam se mostraram muito empenhados. No entanto, vejo que não se pode descansar e achar que tudo já está resolvido. É preciso luta constante para implantar e efetivar todas as propostas feitas pelos delegados de todos os Estados da federação. Sou da opinião que ninguém consegue fazer nada sozinho, é preciso unir forças para cobrar diuturnamente os direitos que todo cidadão tem, independente de sua identidade de gênero e orientação sexual. O cidadão que paga seus impostos e cumprem com suas obrigações precisa, no mínimo de respeito a sua dignidade humana.

THONNY HAWANY: Como futura psicóloga, você pretende contribuir de que forma com a comunidade LGBT de sua região?

PRISCILA GARCIA: Como profissional da área de Psicologia, eu pretendo me colocar a disposição de todos aqueles que buscarem o meu conhecimento como remédio para suas dores e angústias, orientando-os e os auxiliando na compreensão de si mesmos e do mundo em que vivem e atuam como cidadãos. Quero me dedicar à população LGBT, não só para auxiliar na conquista individual, mas também coletiva.
Por último, quero agradecer ao meu Professor Leonardo Lopes por ter me incentivado a participar das conferências e também agradecer ao grupo Arco-Íris de Rondônia por ter me dado a oportunidade de ir até Brasília participar da Conferência Nacional LGBT. Desta forma, pude aprimorar os meus conhecimentos acadêmicos, como cidadã e como futura Psicóloga.
Obrigada Thonny Hawany pela oportunidade de ser entrevistada e, desta forma, poder mostrar para todos os seus leitores o que aprendi e vivenciei nas conferências municipal, estadual e nacional.