Por Thonny Hawany
Participei de duas conferências LGBT regionais, mas por questão alheia a minha vontade, não pude participar das conferências estadual e nacional. Tenho acompanhado o movimento e, pela internet, por meio de uma página pessoal, procuro fazer a minha parte dando visibilidade às questões homoafetivas, com especial destaque para o Direito.
A militância que faço está longe dessa praticada pela maioria da comunidade LGBT. Não gosto nem um pouco do exibicionismo, do nudismo e de vincular minha orientação sexual tão somente ao sexo e a festas que, em virtude da baixa índole de alguns, acabam por denegrir o trabalho que os sérios constroem.
Procurando notícias sobre a 2ª Conferência Nacional para ler algum bom resultado, deparei-me com o texto intitulado de “Baixaria LGBT”, publicado no dia 20 de dezembro, ontem, pelo site MIXBRASIL. Fiquei estarrecido com o que passo a apresentar com base na leitura que fiz do pequeno, mas contundente, texto de Andre Fischer.
Segundo ele, tudo começou nas conferências estaduais: em São Paulo, a pancadaria LGBT acabou virando caso de política, no Rio de Janeiro, quase aconteceu o mesmo. Além do mais, as discussões, nas denominadas conferências prévias foram, quase sempre, vazias de significados e de conteúdos. Não há textos na internet que tenham me causando alguma surpresa pela notoriedade das decisões de nenhum estado. O que os nossos representantes fizeram, nas conferências, deve ter sido, tão somente, matéria para confecção dos relatórios de prestação de contas que, muito provavelmente, jamais teremos acesso, ou o teremos de forma restrita.
Depois de falar das conferências de São Paulo e do Rio de Janeiro brevemente, Fischer falou sobre o show de vaias em Brasília. As nossas lideranças perderam a confiança da comunidade. Não vaiamos pessoas em quem confiamos. Só vaiamos os que perderam a nossa confiança e o nosso respeito. Segundo Fischer, “a 2a Conferência Nacional de Políticas Públicas LGBT foi marcada por fortes vaias ao presidente da maior instituição LGBT nacional, Toni Reis; protestos contra a falta de verbas e a ausência da presidente Dilma”. As lideranças LGBT e aliados precisam rever seus conceitos, operar mudanças para conquistar o equilíbrio do movimento e seguir no processo de transformação.
Enquanto o nosso discurso não sair da gritaria, da baixaria e entrar num nível mais acadêmico, mais político, não receberemos o respeito daqueles que nos observam. Podemos não conquistar a confiança dos que nos são contrários e perder a mesma confiança daqueles que já nos apoiam. Para Andre Fischer, na 2ª Conferência LGBT, “o que se viu foi um show de desunião e uma prova cabal do baixo nível das discussões do chamado movimento homossexual brasileiro”. Algo que tenho falado em outros textos que publiquei anteriormente. “Há pouquíssimos militantes com condições de articular um discurso e representar a comunidade. Uma das grandes conquistas da militância nos últimos anos foi a capilaridade que possibilitou a existência de grupos nas principais cidades do país. Mas isso não significou pessoas preparadas para representar a causa”, continuou Fischer.
Não só concordo com essas afirmações, como também acrescento: os poucos militantes com formação acadêmica e política, ou seja, em condições de assegurar um discurso de melhor nível nos encontros, estão vinculados, geralmente, a entidades ou a trabalhos que não possibilitam sua disponibilidade para participar efetivamente de conferências e outros eventos do gênero.
É preciso mudar o formato do movimento se queremos seguir a diante colhendo alguns bons frutos. Se continuarmos com a atual formatação, não obteremos nenhum bom resultado, salvo derrotas e humilhações. A meu ver, o movimento deve existir e se fortalecer para nos representar nos limites do que se entende por ético e por moral. O fato de sermos LGBT não nos distancia dos bons costumes, da boa oratória, do respeito. Se quisermos dignidade, devemos agir com ela.
Outro ponto, abordado na matéria do MIXBRASIL escrita pelo companheiro Andre Fischer, foi “o corte de verbas públicas para as ações dos grupos LGBT”. Para o autor, esse fato “expôs o que todos sabíamos: eram as verbas federais que seguravam as criticas e que financiavam integralmente as lideranças, desconectadas de suas comunidades locais e sem capacidade para levantar recursos de outras fontes”.
Essa é uma realidade da qual não podemos nos furtar: estamos mal representados, sem verbas e passando por um momento de turbulência nacional no tocante a credibilidade do próprio movimento LGBT. Muitos até podem criticar a atitude de Luiz Mott (fundador do Grupo Gay da Bahia), em recusar o convite para participar da conferência nacional, mas eu a entendo como um protesto em boa hora. Se não mostrarmos o nosso descontentamento, as autoridades permanecerão no ócio, acreditando que está tudo bem e que estamos felizes com as migalhas jogas aos pombos. Se os poderes, com especial destaque para o Legislativo, cumprissem com suas funções e atribuições, votando leis e garantindo direitos, não precisaríamos de grupos e muito menos de gastar o dinheiro público com conferências e outros eventos da mesma natureza.
Com tal posicionamento, não estou dizendo que as conferências não sejam bem-vindas ou importantes, muito ao contrário disso, elas são necessárias, mas quando produzem efeitos verdadeiros e eficazes. Conferência para fazer turismo, como disse a companheira Yone Lindgren, outro dia no Facebook, já estamos cheios e intolerantes. Retomando Andre Fischer, “o objetivo desse tipo de encontro seria de reforçar o espírito de luta” e não para esvaziar e mal conceituar o movimento que não pertence a esse ou àquele, mas a totalidade de nós.
Assim sendo, a respeito da 2ª Conferência, ainda segundo as palavras de Fischer, nada de concreto saiu dali. “O movimento LGBT precisa urgentemente se recriar, sob risco concreto de desaparecer”, emenda o autor. Eu não creio no desaparecer do movimento. Isso seria muito exagerado, mas o descrédito será inevitável se não fizermos algo novo que (r) estabeleça um diálogo que paute pela ética, pela moral e que não se distancie dos bons costumes, tudo diferente de muito do que se vê por aí sendo chamado de movimento LGBT. Há os que aproveitam das festas, das paradas e de outros eventos para a visibilidade de si mesmo e a promoção de um comportamento, quase sempre obsceno, debochado, altamente, reprovado pela maioria da sociedade. Não poderemos cobrar liberdade, igualdade e dignidade se não nos comportarmos de modo digno e merecedores de ser livres e iguais a todos.