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segunda-feira, 10 de junho de 2024

Àwọn Ewé: folhas (II)

Episódio 02: Sàsányìn: ensinar para não perder

É perceptível no Candomblé moderno que as pessoas têm valorizado as práticas mais voláteis em detrimento dos velhos fundamentos perpassados de geração em geração pela memória dos mais velhos. Vê-se mais cuidado com o que vai vestir e usar no pescoço que com os ritos essenciais, a exemplo das folhas.

Em face das imagens nas redes sociais, vemos que boa parte da comunidade candomblecista tem investido mais na aparência e menos na essência. Exibem suas belas vestes bordadas a à guipure, a richelieu e a entremeios, acreditando que, com isso, está fazendo Candomblé raiz.

As vestimentas e as pedrarias são também importantes, mas não constituem a base das religiões de matrizes africanas. Òrìṣà é natureza e é dela que tiramos toda a essência para encantar, louvar e perpetuar o sagrado nas casas de Candomblé.

Com ao cards seguintes chamamos a atenção da comunidade para a Sàsányìn que constitui, a nosso ver, a principal para a religião dos Òrìṣà. Se não registrarmos (letra e voz) e não ensinarmos o valor ritualístico das folhas e também suas propriedades fitoterápicas, teremos num futuro próximo uma vertente goumetizada e artificial do que hoje conhecemos como Candomblé.

 








As imagens pertencem ao acervo particular do Ilé Àṣẹ Ojú Oòrùn – Caetité – Bahia.

Os cards foram originalmente publicados no Instagram da Comunidade Ojú Oòrùn - @ojuoorun. Siga, curta e compartilhe. 

 

 

 



domingo, 9 de junho de 2024

Àwọn Ewé: folhas (I)

Episódio 01: Natureza & Ancestralidade

Este material foi organizado pelo bàbálórìṣà Thonny Hawany para ensinar sobre a importância das folhas como elemento ritualístico e fitoterápico dentro de sua comunidade tradicional afro-brasileira – Ilé Àṣẹ Ojú Oòrùn – localizada no município de Caetité – Estado da Bahia.

O primeiro episódio apresenta um resumo sobre a importância das folhas como elemento ritualístico e também fitoterápico.

Muitos ritos do Candomblé estão relacionados com as folhas e com os poderes ritualísticos que cada uma exerce sobre as entidades e também sobre as pessoas. Dai dizer que sem folha não há òrìsà: kò sí ewé, kò sí Òrìṣà!”

Os cards a seguir apresentados não têm como objetivo tratar das folhas de modo aprofundado, pretende-se com esse material chamar o leitor para uma importante reflexão: o poder das folhas dentro e fora das religiões de matriz africana. O que aprender? Como aprender? Por que aprender? Quando aprendee? Onde aprender? Essas são provocações apresentadas pela série Àwọn Ewé. Não perca os próximos episódios. 








As imagens pertencem ao acervo particular do Ilé Àṣẹ Ojú Oòrùn – Caetité – Bahia.

Os cards foram originalmente publicados no Instagram da Comunidade Ojú Oòrùn - @ojuoorun. Siga, curta e compartilhe. 


domingo, 26 de fevereiro de 2023

EWÉ ỌDÚNDÚN – FOLHA-DA-COSTA

Por Thonny Hawany

O que é?

A folha-da-costa é de origem brasileira e pode ser encontrada de norte a sul e de leste a oeste do Brasil. A folha-da-costa é utilizada para os fundamentos de todos os orixás ligados ao processo de criação (àwọn òrìṣà funfun). Trata-se de uma folha utilizada nos ritos de iniciação, nos ebós, no bori[1] e na sacralização de alguns animais. Há outras folhas com aspectos semelhantes ao da folha-da-costa, fato que a faz ser confundida, principalmente, com a folha àbámodá (milagre-de-são-joaquim, folha da fortuna). Ọdúndún e àbámodá são da mesma família, mas de espécies diferentes. Embora sejam muito parecidas, os pequenos detalhes não escapam aos olhos de um especialista atento. A folha-da-costa tem as bordas quase lisas, enquanto a folha milagre-de-são-joaquim, que também é chamada de folha da fortuna, possui as bordas denteadas e roxeadas (SANTOS, p.101).

Nomes populares: folha-da-costa

Dados científicos: Divisão magnoliophyta, classe magnoliopsida, odem saxifragales, família crassulaceae, gênero kalanchae, espécie brasiliensis, nome científico: kalanchae brasiliensis.  

Nome iorubá: ewé ọdúndún

Orixás associados: Òsàlà[2]

Elemento(s) associado(s): água

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: Folha que glorifica, ilumina os iniciados, purifica o corpo, a mente e o espírito, protegendo-os de todos os males, inclusive de si mesmos. Segundo Mãe Stella (2014, p. 101), “a folha-da-costa ensina comportamentos fundamentais para que o iniciado não enlouqueça: silêncio, amadurecimento, obediência aos mais velhos e ao sagrado”.

Cantiga(s) / Encantamento(s):

Cantiga 1:

Solo:

Loju dé

Coro:

Àwa ṣe re re

Loju dé o

Àwa ṣe re re

Solo:

Àgbaó

Coro:

Ṣògo là ta bò bò wa

Ṣògo là ta

Solo:

Ewé Ọdúndún

Coro:

Ṣe ré kúbúsú bò bò wa

Ṣe ré kúbúsú

Tradução:

Solo: O senhor que tudo vê nos cobriu.

Coro: Nós agimos trocando o cabelo (renascemos com a iniciação) e mudando a pele (renovando-nos). O Senhor que tudo vê nos cobriu. Nós agimos trocando o cabelo e mudando a pele.

Solo: Imbaúba!

Coro: Glorificamo-nos, purificamos, iniciados e iluminados; ricos de folhagens, cobertos e protegidos por Imbaúba.

Solo: Folha-da-costa

Coro: Fomos cobertos por um cobertor rico em folhas, somos protegidos por folha-da-costa.

Observação: A cantiga acima foi retirada da obra “O que as folhas cantam”, escrita por Santos e Peixoto (2014, p. 100). Conforme está escrito na mesma obra, Ọdúndún é cantada juntamente com àgbaó (folha da imbaúba).

Cantiga 2:

Solo:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Coro:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Tradução:

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

O pai que nos une e nos protege.

Certamente nos une e nos protege

Funções sagradas no Candomblé: Ọdúndún é uma folha de muitas utilidades na religião, para compreender sua importância e a sua dimensão nos atos de iniciação e demais obrigações no Candomblé, é preciso ser de dentro. Explicar com minucias os usos de Ọdúndún é colocar em risco os segredos seculares guardados pelos nossos ancestrais e perpassados, tão somente, na prática e, quase sempre, por meio da oralidade.

Funções fitoterápicas: segundo a nossa experiência no terreiro, a folha-da-costa tem propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, serve para tratamento de infecções urinárias e também para tratamento do aparelho digestivo. A folha-da-costa pode ser utilizada na forma de unguentos, banhos e chás.

Nota importante:

É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças e tratamentos empíricos exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

Referências:

1. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

2. SANTOS, Maria Stella de Azevedo e PEIXOTO, Graziela Domini. O que as folhas cantam (para quem canta folha), Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), 201

Notas finais:

[1] . Ato pelo qual se alimenta a cabeça espiritual (Orí)

[2] . Oxalá

Fonte das imagens: Arquivo pessoal

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

EWÉ ÒWÚ – FOLHA DO ALGODÃO

 Por Thonny Hawany

Conforme está escrito no sítio da AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão, “o algodão é conhecido do homem desde os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade” (online).

O algodoeiro é mesmo uma planta surpreendente, tem boa sombra quando plantado para este fim, tem flores lindas de perfume sutil, veste a humanidade com suas fibras e serve como remédio para o corpo e também para a alma, como veremos mais adiante.

Nomes populares: algodoeiro, algodão-bonito, algodão-de-malta, algodão-herbáceo

Nome científico:  Gossypium L., da família Malvaceae

Nome iorubá: ewé òwú

Orixás associados: Pertence por excelência a Oxalá, mas também a outros orixás da mesma linhagem.

Elemento(s) associado(s): ar

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: equilíbrio entre os elementos feminino e masculino. É uma folha gún (quente). O algodão e o algodoeiro possuem muito prestígio na cultura iorubá, pelo menos dois signos de Ifá tratam do assunto: Òsá e Ogbè-Ògúnda, como se pode ler em Barros e Napoleão (2011, p. 204).

Cantiga / Encantamento:


Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ó ya sábá ni bá ta bá mí

(Ela transborda, abriga, ajuda, ilumina, sacode)

Baba bẹ̀ o!

(Pai, suplica!)

Funções sagradas no Candomblé: o algodão (ewé òwú) é uma folha quente pela qual pedimos proteção para o nosso Orí [1]  e consequentemente para toda a nossa vida. A ewé òwú cobre a nossa cabeça e nos protege contra os nossos inimigos. A folha do algodoeiro é utilizada nos banhos dos obrigacionados e em outros ritos, cujo hunbe [2]  não nos permite descrevê-los aqui.  

Funções fitoterápicas: De modo bem resumido, o chá da folha de algodão é diurético, contribui com a digestão e ajuda na regulação do intestino. Ainda conforme experientes rezadeiras da Região Sudoeste da Bahia, as folhas do algodoeiro também servem para regular o ciclo menstrual.[3]

Referências:

1. História do Algodão. AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão. Disponível em: https://ampa.com.br/historia-do-algodao/. Acesso em 23/02/2023.

2.Ewé òwú. GUNFAREMIM. Disponível em: https://gunfaremim.com/?p=352. Acesso em 23/-2/2-23.

3. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

__________________________________________________________

[1] . Cabeça, orixá com o qual nascemos todos.

[2] . Educação religiosa para o povo do Candomblé.

[3] . É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

FONTE DAS IMAGENS: Arquivo pessoal

quarta-feira, 17 de março de 2021

Ewé Pèrègún

Por Thonny Hawany

Pé = verbo chamar + Egún = espirito ancestral. Assim sendo, Pèrègún é a folha que nos coloca em contato com os nossos ancestrais, quer tenham sido divinizados, quer não. A folha do Pèrègún é utilizada em quase todos os ritos do Candomblé. Contam-se os mitos que Pèrègún assistiu ao nascimento do ser humano. Eu acostumo dizer que Pèrègún assistiu ao nosso nascimento, mas também ao nosso crescimento e desenvolvimento como serem humanos. Nós do Candomblé acreditamos que as árvores e todos os vegetais possuem, senão alma, uma energia vital que os liga ao céu e que as faz interagir com outros seres e elementos físicos aqui na terra. Em Pèrègún vive um espírito feminino ancestral, deste modo, não se mexe com o pèrègún sem antes reverenciar a energia que nele vive. Pèrègún é a folha que nos enriquece e nos renova ao nos doar o seu frescor e o seu principal dom de boa sorte. Pèrégún é a luz que nos ilumina na escuridão é a adaga com a qual nós nos defendemos dos nossos inimigos. Segundo Mãe Stela de Òsóòsì (2014, p. 109), em sua obra “O que as folhas cantam para quem canta folha”, o Pèrègún tem também a função de despachar espíritos sugadores

Nome em yorùbá: ewé pèrègún

Nomes populares: nativo, pau-d’água, dracena

Nome científico: dracaena fragans

Òrìsà(s) associado(s): Ògún, Ọ̀ṣún, Ọ̀sányìn, Ìyámi, Egúngún

Elemento associado: pèrègún é uma folha ligada à terra. 

Gênero: masculino

Significado sagrado: ancestralidade, boa sorte, frescor, proteção, renovação

Algumas cantigas (orin):

Orin I:

Pèrègún a lá we titun o

Pèrègún a lá we titun

Gbogbo Pérègúna la we lese

Pèrègún a lá we titun

Tradução:

Pèrègún purifique-nos e nos dê boa sorte 

Pèrègún purifique-nos e nos dê boa sorte

Pèrègún dê-nos boa sorte, bençãos e poder

Pèrègún purifique-nos e nos dê boa sorte

Orin II

Pèrègún alára gígún o

Pèrègún alára gígún

Oba kò ní jé o roró okán

Pèrègún alára gígún o

Pèrègún gbà agbára tuntun

Tradução:

Pèrègún tem o corpo excitado

Pèrègún tem o corpo excitado

Rei não deixa ter problemas de coração

Pèrègún tem o corpo excitado

Pèrègún dá nova força


Funções fitoterápicas:

Da seiva do pèrègún pode ser extraída uma substância viscosa que ficou conhecida como sangue-de-dragão. Segundo anotações na wikipedia, essa substância “era usada na antiguidade em fármacos (sob o nome de sanguis draconis) e em tinturaria, constituindo nos tempos iniciais de povoamento europeu da Macaronésia, em especial das Canárias, um importante produto de exportação”.

Observação: É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

Referências:

BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
DRACAENA. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dracaena. Acesso em: 17/03/2021.
PÈRÈGÚN – A FOLHA ANCESTRAL. Disponível em:  http://artigos7folhas.com.br/2020/02/05/peregun-a-folha-ancestral/. Acesso em: 17/03/2021.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. O que as folhas cantam (para quem canta filha. Brasília: INCTI, 2014.
VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Imagem: https://esophone.com.br/blog/


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segunda-feira, 16 de março de 2020

ETÌPỌ́LÀ


Organizado por Thonny Hawany
O QUE É?

Etìpọ́là, de origem brasileira, é uma planta rasteira que pode crescer até 70 centímetros, denominada comumente de erva tostão e de pega-pinto. Suas folhas têm formato arredondado, são verdades acinzentadas ou esbranquiçadas. Segundo Santos (2014, p. 150), “ewé etìpọ́là é chamada de pega-pinto porque suas folhas pequeninas fixam-se nas penugens dos pintinhos, quando estes se aproximam delas. Apesar de ser considerada uma erva daninha, é uma planta com importantes virtudes medicinais.

DADOS IMPORTANTES:

Nome em yorùbá: ewé etìpọ́
Nomes populares: erva tostão, pega-pinto
Nome científico: Boerhaavia difussa L, Nyctaginaceae
Òrìsà(s) associados: Ọya, Ṣàngó
Elemento associado: fogo
Gênero: masculino
Significado sagrado: convite à reclusão, renascimento, purificação, prosperidade

ENCANTAMENTO (ORIN/ỌFỌ̀):

Ifà owó, ifà ọmọ
Ewé etìpọ́là wá fifa burù rú

TRADUÇÃO CONTEXTUAL:

Ifá é dinheiro, Ifá é filho.
A folha de etìpọ́là é abençoada por Ifá.

FUNÇÕES TERAPÊUTICAS:

Das raízes de etìpọ́là pode ser fabricado um vinho (garrafada) com importantes funções hepáticas e combate às afecções renais.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DO AUTOR:

1. A prosperidade e o progresso são a base do uso da ewé etìpọ́là nos ritos do Candomblé. Sem etìpọ́là não há garantia de que os ritos terão o completo progresso almejado inicialmente.
2. Etìpọ́là deve ser usado observando a dosagem visto que pode causar coceiras no caso de ser usado na forma de banhos.
3. Das raízes do etìpọ́là é feito um àṣẹ (pó) que serve para a consagração de tudo o quanto o yawo usará em sua iniciação.

Observação: É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

REFERÊNCIAS:

BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. O que as folhas cantam (para quem canta filha. Brasília: INCTI, 2014.
VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Fonte da imagem: banco de fotos do autor

sábado, 14 de março de 2020

TẸ̀TẸ̀

Organizado por Thonny Hawany


O QUE É?

Segundo Santos (2014, p. 147), tẹ̣̀, o bredo branco, sem espinhos, “também nomeada caruru, é uma planta rica em ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2 e C, por isso ela tem sido resgatada na culinária que aproveita suas folhas e talos para fazer refogados, molhos, tortas, pastéis e panquecas; com suas sementes são feitos pães ou elas são, simplesmente, comidas torradas”. Apesar de todas essas propriedades, bredo é considerada uma erva daninha haja vista nascer com muita facilidade.

DADOS IMPORTANTES:

Nome em yorùbá: ewé tẹ̣̀
Nomes populares: bredo, bredo-sem-espinhos, caruru
Nome científico:  amaranthus viridis
Òrìsà(s) associado(s): Òsàlà e Ògún
Elemento associado: terra
Gênero: feminino
Significado sagrado: segurança, perseverança, otimismo, força, vitalidade, ânimo

ENCANTAMENTO (ORIN/ỌFỌ̀):

̣̣ kọ má tẹ o
Dání ṣò ni lẹ̀
̣̣ kọ má tẹ o
Dání ṣò ni lẹ̀

TRADUÇÃO CONTEXTUAL:

Bredo acorda sempre aquele que é indolente,
preguiçoso, sem ânimo.
Bredo dá segurança ao inseguro.

FUNÇÕES TERAPÊUTICAS:

Conforme a cultura de terreiro, o bredo/caruru é utilizado para combater infecções e também como auxiliar no tratamento de problemas relacionados com o fígado. Indica-se no combate às doenças relacionadas com os osso, dentes tendo em vista sua riqueza em cálcio.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES DO AUTOR:

1. Ewé tẹ̣̀ é remédio espiritual quando utilizado nos banhos sagrados, é uma das primeiras folhas cantadas na preparação do àgbo (omí ẹ̣̀).
2. Como vimos acima, ewé tẹ̣̀ é remédio para o corpo, tendo em vista que alimenta, palia, auxilia e cura.
3. Ewé tẹ̣̀ é apenas um dos exemplos de quem nem tudo é erva daninha. Ao carpir nosso jardim, podemos estar nos desfazendo de importante alimento e/ou remédio.
4. Motivo pelo qual é classificada como erva daninha: ter muita semente e nascer em abundância. 

Observação: É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

REFERÊNCIAS:

BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. O que as folhas cantam (para quem canta filha. Brasília: INCTI, 2014.
VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Fonte da imagem: banco de fotos do autor

segunda-feira, 26 de março de 2018

EWÉ ÌRÓKÒ

Material organizado por Thonny Hawany


O Ìrókò é uma árvore tipicamente africana que, por sua vez, representa, em si, o òrìsà do mesmo nome: Ìrókò. Segundo Mãe Stella de Òsóòsì, “o culto ao òrìsà-árvore Ìrókò é cercado de muitos mistérios, principalmente, porque a árvore que representa o òrìsà do mesmo nome serve de morada não só para as Ìyámi (que permanecem nela por muito tempo, por seus frutos não As agradam), como também para os espíritos dos iniciados denominados àbiku”.

O Ìrókò é uma árvore sagrada, é uma das principais folhas dos rituais relacionados às ewé. Ìrókò é um òrìsà cujo poder encanta a todos. Sua energia constitui uma das principais pilastras que sustentam o poder de uma casa de Candomblé. Alaràgbó Músò mora na árvore de Ìrókò e é dele o segredo para fazer àbiku ficar por mais tempo na terra. Ìrókò é òrìsà ancestral, sua representação aqui na terra, a árvore de Ìrókò, pode viver 2 ou mais centenas de anos e representa a longevidade, a durabilidade e a não perenidade das coisas. (SANTOS, 2014).

A expressão ìrókò é o nome de um òrìsà muito antigo e é também o nome da árvore onde vive esse òrìsà. Há itáns que contam que Ìrókò foi a primeira árvore a nascer na Terra, foi por ela que todos os òrìsà(s) desceram do òrun (céu) ao àiyé (terra). 

No Brasil, a árvore de Ìrókò foi substituída pela gameleira branca, árvore de grande porte também conhecida como cerejeira e figueira. A gameleira tem muitos outros nomes a depender da região do Brasil. Como o nosso objetivo não é fazer um tratado de botânica, mas pôr em resumo alguns ensinamentos sobre a ewé Ìrókò, ater-nos-emos ao que se segue:

Nome em yorùbá: ewé ìrókò
Nomes populares: cerejeira, figueira, gameleira-de-purga, gameleira-de-cansaço,  
Nome científico: fícus gomelleira.
Òrìsà(s) associado(s): Ìrókò, Ṣàngò,
Elemento associado: fogo
Gênero: masculino
Significado sagrado: ancestralidade, longevidade

Algumas cantigas (orin):
Erọ́ Ìrókò iso.
Erọ́ Ìrókò iso.
Salve Ìrókò para que fixe a espiritualidade.
Salve Ìrókò para que fixe a espiritualidade.
Erọ́ Ìrókò iso.
Erọ́ Ìrókò silẹ̀.
Salve Ìrókò para que fixe a espiritualidade.
Salve o ancestral que nos une e nos fixa.

Funções fitoterápicas:
No senso comum, o leite da gameleira é utilizado para a cura de lombrigas, da hidropisia fetal, de feridas, cravos e bouba.

Referências:
BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. O que as folhas cantam (para quem canta filha. Brasília: INCTI, 2014.
VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

quarta-feira, 21 de março de 2018

EWÉ ỌGBỌ́

Material organizado por Thonny Hawany


Ọgbọ́ é uma planta de origem africana, trazida para o Brasil pelos nagôs. Atualmente, é possível encontrá-la disseminada em pequenas florestas, jardins públicos e também cultivada em terreiros de Candomblé para fins ritualísticos.

A folha ewé ọgbọ́ é utilizada na iniciação de todos os òrìsa(s), sem exceção. É uma folha poderosa na catalisação de boas energias. Ọgbọ́ é utilizada nos banhos (omi ẹ̣̀ = água que acalma). Associada a outras plantas, não menos importantes, ọgbọ́ pode influenciar, sobremaneira, na consciência mediúnica dos noviciados do Candomblé.

Nas lições dos mais velhos, conta-se que ọgbọ́ foi a primeira folha liberada por Òsányìn para ser utilizada por Òṣóòsì nos seus ritos sagrados. Ewé ọgbọ́ é companheira de Ìrókò, é uma pequena trepadeira que vive abraçada ao tronco da grande árvore.

Ìrókò foi a primeira árvore plantada e ọgbọ́ a primeira folha a ser usada por permissão de Òsányìn, assim sendo, ewé Ìrókò e ewé ọgbọ́ são as duas primeiras folhas cantadas em todos os rituais, salvo as exceções consignadas nos dogmas de cada ẹ̀gbẹ (sociedade, grupo ou família).
    
Nome em yorùbá: ewé ọgbọ́
Nomes populares: rama-de-leite, cipó-de-leite, folha-de-leite, orelha-de-macaco.
Nome científico: periploca nigrescens afzel asclepiadaceae, parquetina nigrescens afzel bullock.
Òrìsà(s) associados: Òṣóòsì, Òsányìn, Ìyámí
Elemento associado: terra
Gênero: masculino
Significado sagrado: fazer ouvir

Em tempo: A folha de ọgbọ́ está intimamente liga aos rituais das mães ancestrais, mas sobre isso, falaremos, em outra oportunidade, quando falaremos das nossas ìyá-èlèyé.

Algumas cantigas (orin):
Ọgbọ́ kíní kíní olè
Ọgbọ́ kíní kíní  mo ọ̣
Ọgbó báru fàru làbà
Bàbá báru fàru awo
Ọgbọ́ cuidadosamente sobre a casa.
Ọgbọ́ cuidadosamente sobre a cidade de Oyó.
Ọgbọ́ conduz a carga revivendo a disputa
Pai que conduz e revive o mistério.
Òrìṣà e rè ewé re
Ewè ọgbọ́ ta ewè ṣè
Ewè ọgbọ́ ta ewa ò
Ewè ọgbọ́ ta ewè ṣè
O Orixá se alimenta, a folha cai.
Ọgbọ́ se esparrama, a folha agi.
Ọgbọ́ se esparrama, graciosamente.
Ọgbọ́ se esparrama, a folha agi.
Ewé ogbó Iroko
Ewé gbogbo orisá
Ewé ogbó Iroko
Babá Ewé gbogbo orisá
A folha de ọgbọ́ abraça o Ìrókò.
Ọgbọ́ é folha de todos os orixás.
Folha que se enrosca no Ìrókò,
Pai, ọgbọ́ é folha de todos os orixás.

Funções fitoterápicas:
Em conformidade com Verger (1995), na cultura iorubana, ọgbọ́ possui princípios fitoterápicos capazes de curar a diabetes; no entanto, não encontramos nenhuma outra literatura médica que mostrasse resultados de pesquisas que comprovassem as funções indicadas em Verger.

Referências:
BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO. Ewé òrìṣà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé jeje-nagô. 5.ed., Rio de Jeneiro: Bertrand Brasil, 2011.
VERGER, Pierre Fatumbi. Ewe: o uso das plantas na sociedade ioruba. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
FONTE DA IMAGEM: Arquivo de imagens do Àse Ojú Oòrùn - Caetité - Bahia.