domingo, 26 de fevereiro de 2023

EWÉ ỌDÚNDÚN – FOLHA-DA-COSTA

Por Thonny Hawany

O que é?

A folha-da-costa é de origem brasileira e pode ser encontrada de norte a sul e de leste a oeste do Brasil. A folha-da-costa é utilizada para os fundamentos de todos os orixás ligados ao processo de criação (àwọn òrìṣà funfun). Trata-se de uma folha utilizada nos ritos de iniciação, nos ebós, no bori[1] e na sacralização de alguns animais. Há outras folhas com aspectos semelhantes ao da folha-da-costa, fato que a faz ser confundida, principalmente, com a folha àbámodá (milagre-de-são-joaquim, folha da fortuna). Ọdúndún e àbámodá são da mesma família, mas de espécies diferentes. Embora sejam muito parecidas, os pequenos detalhes não escapam aos olhos de um especialista atento. A folha-da-costa tem as bordas quase lisas, enquanto a folha milagre-de-são-joaquim, que também é chamada de folha da fortuna, possui as bordas denteadas e roxeadas (SANTOS, p.101).

Nomes populares: folha-da-costa

Dados científicos: Divisão magnoliophyta, classe magnoliopsida, odem saxifragales, família crassulaceae, gênero kalanchae, espécie brasiliensis, nome científico: kalanchae brasiliensis.  

Nome iorubá: ewé ọdúndún

Orixás associados: Òsàlà[2]

Elemento(s) associado(s): água

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: Folha que glorifica, ilumina os iniciados, purifica o corpo, a mente e o espírito, protegendo-os de todos os males, inclusive de si mesmos. Segundo Mãe Stella (2014, p. 101), “a folha-da-costa ensina comportamentos fundamentais para que o iniciado não enlouqueça: silêncio, amadurecimento, obediência aos mais velhos e ao sagrado”.

Cantiga(s) / Encantamento(s):

Cantiga 1:

Solo:

Loju dé

Coro:

Àwa ṣe re re

Loju dé o

Àwa ṣe re re

Solo:

Àgbaó

Coro:

Ṣògo là ta bò bò wa

Ṣògo là ta

Solo:

Ewé Ọdúndún

Coro:

Ṣe ré kúbúsú bò bò wa

Ṣe ré kúbúsú

Tradução:

Solo: O senhor que tudo vê nos cobriu.

Coro: Nós agimos trocando o cabelo (renascemos com a iniciação) e mudando a pele (renovando-nos). O Senhor que tudo vê nos cobriu. Nós agimos trocando o cabelo e mudando a pele.

Solo: Imbaúba!

Coro: Glorificamo-nos, purificamos, iniciados e iluminados; ricos de folhagens, cobertos e protegidos por Imbaúba.

Solo: Folha-da-costa

Coro: Fomos cobertos por um cobertor rico em folhas, somos protegidos por folha-da-costa.

Observação: A cantiga acima foi retirada da obra “O que as folhas cantam”, escrita por Santos e Peixoto (2014, p. 100). Conforme está escrito na mesma obra, Ọdúndún é cantada juntamente com àgbaó (folha da imbaúba).

Cantiga 2:

Solo:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Coro:

Ọdúndún bàbá té ru lé

Ọdúndún bàbá té ru lé

Bàbá té ru lé

Male té ru lé

Bàbá té ru lé

Máa le té ru lé

Tradução:

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

Folha-da-costa, pai que nos une e nos protege

O pai que nos une e nos protege.

Certamente nos une e nos protege

Funções sagradas no Candomblé: Ọdúndún é uma folha de muitas utilidades na religião, para compreender sua importância e a sua dimensão nos atos de iniciação e demais obrigações no Candomblé, é preciso ser de dentro. Explicar com minucias os usos de Ọdúndún é colocar em risco os segredos seculares guardados pelos nossos ancestrais e perpassados, tão somente, na prática e, quase sempre, por meio da oralidade.

Funções fitoterápicas: segundo a nossa experiência no terreiro, a folha-da-costa tem propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, serve para tratamento de infecções urinárias e também para tratamento do aparelho digestivo. A folha-da-costa pode ser utilizada na forma de unguentos, banhos e chás.

Nota importante:

É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças e tratamentos empíricos exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

Referências:

1. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

2. SANTOS, Maria Stella de Azevedo e PEIXOTO, Graziela Domini. O que as folhas cantam (para quem canta folha), Brasília: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI), 201

Notas finais:

[1] . Ato pelo qual se alimenta a cabeça espiritual (Orí)

[2] . Oxalá

Fonte das imagens: Arquivo pessoal

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

EWÉ ÒWÚ – FOLHA DO ALGODÃO

 Por Thonny Hawany

Conforme está escrito no sítio da AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão, “o algodão é conhecido do homem desde os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade” (online).

O algodoeiro é mesmo uma planta surpreendente, tem boa sombra quando plantado para este fim, tem flores lindas de perfume sutil, veste a humanidade com suas fibras e serve como remédio para o corpo e também para a alma, como veremos mais adiante.

Nomes populares: algodoeiro, algodão-bonito, algodão-de-malta, algodão-herbáceo

Nome científico:  Gossypium L., da família Malvaceae

Nome iorubá: ewé òwú

Orixás associados: Pertence por excelência a Oxalá, mas também a outros orixás da mesma linhagem.

Elemento(s) associado(s): ar

Gênero: folha feminina

Significado sagrado: equilíbrio entre os elementos feminino e masculino. É uma folha gún (quente). O algodão e o algodoeiro possuem muito prestígio na cultura iorubá, pelo menos dois signos de Ifá tratam do assunto: Òsá e Ogbè-Ògúnda, como se pode ler em Barros e Napoleão (2011, p. 204).

Cantiga / Encantamento:


Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ewé Òwú jẹ́jẹ́ 

(A folha do algodão acalma)

Ó ya sábá ni bá ta bá mí

(Ela transborda, abriga, ajuda, ilumina, sacode)

Baba bẹ̀ o!

(Pai, suplica!)

Funções sagradas no Candomblé: o algodão (ewé òwú) é uma folha quente pela qual pedimos proteção para o nosso Orí [1]  e consequentemente para toda a nossa vida. A ewé òwú cobre a nossa cabeça e nos protege contra os nossos inimigos. A folha do algodoeiro é utilizada nos banhos dos obrigacionados e em outros ritos, cujo hunbe [2]  não nos permite descrevê-los aqui.  

Funções fitoterápicas: De modo bem resumido, o chá da folha de algodão é diurético, contribui com a digestão e ajuda na regulação do intestino. Ainda conforme experientes rezadeiras da Região Sudoeste da Bahia, as folhas do algodoeiro também servem para regular o ciclo menstrual.[3]

Referências:

1. História do Algodão. AMPA – Associação Mato-grossense dos Plantadores de Algodão. Disponível em: https://ampa.com.br/historia-do-algodao/. Acesso em 23/02/2023.

2.Ewé òwú. GUNFAREMIM. Disponível em: https://gunfaremim.com/?p=352. Acesso em 23/-2/2-23.

3. BARROS, José Flávio Pessoa de e NAPOLEÃO, Eduardo. Ewé Òrìṣà. 5.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

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[1] . Cabeça, orixá com o qual nascemos todos.

[2] . Educação religiosa para o povo do Candomblé.

[3] . É importante lembrar que nenhum conhecimento popular sobre doenças exclui a necessária orientação de um médico. Consulte um médico antes de fazer uso de qualquer substância, quer seja ela natural, quer seja ela produzida em laboratório.

FONTE DAS IMAGENS: Arquivo pessoal