Entrevista feita pela jornalista Carolina Sá a Thonny Hawany
Em pauta nas eleições 2010 os assuntos: aborto, teorias anti ou pró homossexuais – e outras que incentivariam a homofobia – conforme a visão de algumas entidades, tem provocado discussões acaloradas e muita especulação. Enquanto os candidatos ‘x’ ou ‘y’, citados aqui sem conotação eleitoreira, discutem assuntos como estes as prioridades de governo tem sido deixadas de lado.
Para o presidente de Honra do grupo LGBT Arco Íris de Cacoal (leia-se LBGT – Lésbicas, bissexuais, homossexuais e transexuais), Thonny Hawanny, a questão tem se tornado bandeira política de alguns grupos. Ele criticou esta postura que define como “homofóbica”, e disse mais, “as questões do aborto e da comunidade LGBT são de políticas públicas e não de religão”. Para o militante, que também é professor do curso de Letras e acadêmico de Direito de uma faculdade particular em Cacoal, a questão é mais grave do que parece, “a política atual, esta eleição voltou as eras medievais, visto que há uma confusão entre o poder do estado e o poder da igreja”, analisou.
Demonização
Para o presidente a figura do homossexual é vista por vezes de forma ‘distorcida’ e até por que não dizer demoníaca, “existe uma demonização da figura do homossexual para assustar e instigar os fiéis a criar um ódio ao homossexual, o que chamamos de homofobia”, explicou. Ele disse ainda que as igrejas chamadas pelos grupos LGBT de ‘fundamentalistas’, devido a postura anti homossexuais, tem se tornado incentivadoras da homofobia. Para o presidente do grupo Arco Íris a postura seja religiosa ou política de afronta aos homossexuais consiste em um desrespeito a própria lei brasileira, “é um desrespeito a própria Constituição, que diz que o estado é democrático de direito e laico, ou seja, livre”. Para ele ao invés de colocarem em pauta os assuntos aborto e homossexualidade, os candidatos deveriam discutir a questão das drogas, com políticas públicas, tratamento aos dependentes e crianças viciadas.
O debate esquenta
A Administradora de Empresas Eleonice Silveira, que não frequenta igrejas e se diz ‘agnóstica’, diz que a igreja não deve interferir, nem induzir os fiéis a atitudes preconceituosas. E acha que isso teria conseqüências graves, “as pessoas que frequentam as igrejas mais ‘radicais’ são influenciadas de forma muito forte, o que pode trazer resultados ruins, como fomento a discriminação e radicalismos”, explicou. Já para o jovem Luciano Almeida Neto, de 21 anos, que faz parte de um grupo de jovens católicos, os padres também tem uma postura antihomossexual, mas ele não entende que este discurso tenha algum efeito negativo. “Eu nunca vi um padre falar mal de gays com preconceito, eles apenas citam o evangelho”, disse.
Igrejas rebatem
Entre alguns religiosos a polêmica questão é motivo de indignação. O pastor de uma igreja Evangélica de Cacoal, que pediu para não ser identificado de forma a evitar ‘animosidades’ com os grupos LGBT, disse que a igreja quer simplesmente pregar a liberdade religiosa, “não é o pastor ou a igreja que fala mal dos homossexuais, é a própria Bíblia, a Escritura Sagrada que combate estas práticas”, disse o religioso em tom de defesa. O pastor também falou sobre a questão da homofobia, argumentando que nunca as igrejas instigaram a violência física ou psicológica contra as pessoas de ‘orientação diferente’, e afirmou que todos os homossexuais são muito bem tratados na sua igreja, “jamais vamos querer maltratar ou humilhar uma pessoa, queremos apenas o seu bem”, disse.
A ‘recuperação’ dos LGBT
Algumas igrejas adotam uma postura de ‘converter’ o então homossexual a uma prática heterossexual, induzindo-o, ou ‘orientando-o’ a constituir família, leia-se: marido, mulher e filhos. Com relação a isso, um caso ocorrido há pouco mais de um ano chamou a atenção da opinião pública e chocou a comunidade local. Um jovem homossexual de pouco mais de 20 anos, de família evangélica foi induzido pelos familiares a freqüentar a igreja. O pastor e os outros membros passaram a cobrar dele uma atitude ‘normal’, heterossexual, o que o levou a uma profunda depressão. Após alguns meses de prostração de debilidade física e psicológica o jovem veio a óbito.
Caso recente
Durante o sermão da missa realizada nessa terça-feira dentro da comunidade católica Canção Nova, o padre José Augusto criticou um dos candidatos a presidência pela postura ‘supostamente’ favorável ao aborto. “Podem me matar, podem me prender, podem me processar, e, se tiver de ser preso serei, mas eu não posso me calar diante de um partido que está apoiando o aborto”, completou José Augusto, que também se pronunciou contra o casamento homossexual.
Outro lado
No mesmo dia do sermão, o monsenhor Jonas Abib, fundador da comunidade Canção Nova, divulgou uma nota oficial, na qual diz: "a Canção Nova mantém-se alinhada à catequese da Igreja Católica e à sua doutrina comprometida com o direito à vida e à dignidade humana". Em outro trecho, diz que a Canção Nova "não vê cada candidato por suas bandeiras, mas os acolhe como filhos amados de Deus. Cada fiel deve votar de acordo com suas convicções e com a doutrina social da Igreja. (...) Por fim, peço em nome da Canção Nova, perdão por qualquer excesso", diz ele no comunicado. A assessoria ainda informou que o padre José Augusto segue normalmente com suas atividades.
Sem pretensões
Não há qualquer intenção nesta matéria de defender grupos ‘x’ ou ‘y’ ou mesmo encerrar o assunto exposto nesta reportagem. A ideia é tão somente instigar o debate em face de um tema que toma proporções enormes no âmbito social e político, e certamente reflete a postura da população brasileira em relação a assuntos polêmicos, que dizem respeito a valores religiosos, comportamentais e até morais e éticos discutidos no âmbito da política.
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