Atotô!
Xapanã
nasceu em Empê, no território Tapá, também chamado Nupê. Era um guerreiro
terrível que, seguido de suas tropas, percorria o céu e os quatro cantos do
mundo. Ele massacrava sem piedade aqueles que se opunham à sua passagem. Seus inimigos
saíam dos combates mutilados ou morriam de peste. Assim, chegou Xapanã em
território Mahi, no Daomé. A terra dos mahis abrangia as cidades de Savalú e
Dassa Zumê.
Quando
souberam da chegada iminente de Xapanã, os habitantes desta região, apavorados,
consultaram um adivinho. E assim ele falou: "Ah! O grande Guerreiro chegou
de Empê! Aquele que se tornará o senhor do país! Aquele que tornará esta terra
rica e próspera, chegou! Se o povo não aceitá-lo, ele o destruirá! É necessário
que supliquem a Xapanã que vos poupe. Façam-lhe muitas oferendas; todas as que
ele goste: inhame pilado, feijão, farinha de milho, azeite de dendê, picadinho
de carne de bode e muita, muita pipoca! Será necessário, também, que todos se
curvem diante dele, que o respeitem e o sirvam. Desde que o povo o reconheça
como pai, Xapanã não o combaterá, mas protegerá a todos!"
Quando
Xapanã chegou, conduzindo seus ferozes guerreiros, os habitantes de Savalú e
Dassa Zumê reverenciaram-no, encostando suas testas no chão, e saudaram-no: Totô hum! Totô hum! Atotô! Atotô! "Respeito
e submissão!"
Xapanã
aceitou os presentes e as homenagens, dizendo: "Está bem! Eu os pouparei! Durante
minhas viagens, desde Empê, minha terra natal, sempre encontrei desconfiança e hostilidade.
Construam para mim um palácio. É aqui que viverei a partir de agora!"
Xapanã instalou-se assim entre os
mahis. O país prosperou e enriqueceu, " e o Grande Guerreiro não voltou
mais a Empê, no território Tapá, também hamado Nupê.
Xapanã
é considerado o deus da varíola e das doenças contagiosas. Ele tem, também, o
poder de curar. As doenças contagiosas são, na realidade, punições aplicadas
àqueles que o ofenderam ou conduziram-se mal.
Seu
verdadeiro nome, é perigoso demais pronunciar. Por prudência, é preferível
chamá-lo Obaluaê, o "Rei,
Senhor da Terra" ou Omulú, o
"Filho do Senhor".
Quando
Xapanã instalou-se entre o mahis, recebeu, em uma nova terra, o nome de Sapatá.
Aí, também, era preferível chamá-lo Ainon,
o "Senhor da Terra", ou, então, Jeholú, o "Senhor das Pérolas".
O
fato de ser chamado Jeholú e Ainon causou mal-entendidos entre
Sapatá e os reis do Daomé, pois eles também usavam estes títulos. Enciumados,
os Jeholú de Abomey expulsaram, várias vezes, Jeholú Ainon do Daomé e
obrigaram-no a voltar, transitoriamente, à terra dos mahis. Jeholú Ainon
vingou-se: vários reis daomeanos morreram de varíola!
Atotô!
FONTE DO TEXTO:
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed.
Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: http://www.ceuue.com.br/arquivo/inspiracao_0408.html
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