Obà Siré
Obá era uma mulher cheia de
vigor e coragem. Faltava-lhe, talvez, um pouco de charme e refinamento. Mas ela
não temia ninguém no mundo. Seu maior prazer era lutar. Seu vigor era tal que
ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.
Obá venceu todas as disputas
que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrubou Obatalá, tirou
Oxóssi de combate e deixou no chão Orunmilá. Oxumaré não resistiu à sua força.
Ela desafiou Obaluaê e botou Exu pra correr.
Chegou a vez de Ogum! Ogum
teve o cuidado de consultar Ifá, antes da luta. Os adivinhos lhe disseram para
fazer oferendas, compostas de duzentas espigas de milho e muitos quiabos. Tudo
pisado num pilão para se obter uma massa viscosa e escorregadia. Esta
substância deveria ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam.
Ogum seguiu fielmente estas
instruções. Na hora da luta, Obá chegou dizendo: "O dia do encontro é
chegado." Ogum confirmou: "Nós lutaremos, então, um contra o
outro." A luta começou.
No início, Obá parecia
dominar a situação. Ogum recuou em direção ao lugar onde ele derramara a
oferenda. Obá pisou na pasta viscosa e escorregou. Ogum aproveitou para
derrubá-Ia. Rapidamente, libertou-se do pano que vestia e a possuiu ali mesmo,
tomando-se, desta maneira, seu primeiro marido.
Mais tarde, Obá tomou-se a
terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa. A primeira mulher de
Xangô foi Oiá-Iansã, que era bela e fascinante. A segunda foi Oxum, que era
coquete e vaidosa.
Uma rivalidade logo se
estabeleceu entre Obá e Oxum. Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô.
Obá sempre procurava surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum
quando esta preparava as refeições de Xangô.
Oxum irritada, decidiu
preparar-lhe uma armadilha. Convidou Obá a vir, um dia de manhã, assistir à
preparação de um prato que, segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.
Obá chegou na hora combinada
e encontrou Oxum com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as orelhas. Ela
preparava uma sopa para Xangô onde dois cogumelos flutuavam na superfície do
caldo. Oxum convenceu Obá que se tratava de suas orelhas, que ela cozinhava,
desta forma, para preparar o prato favorito de Xangô. Este logo chegou, vaidoso
e altivo. Engoliu, ruidosamente e com deleite, a sopa de cogumelos e galante e
apressado, retirou-se com Oxum para o quarto.
Na semana seguinte, foi a
vez de Obá cuidar de Xangô. Ela decidiu pôr em prática a receita maravilhosa.
Xangô não sentiu nenhum prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas. Ele
achou repugnante o prato que ela lhe preparara.
Neste momento, Oxum chegou e
retirou o lenço, mostrando à sua rival que suas orelhas não haviam sido
cortadas, nem comidas. Furiosa, Obá precipitou-se sobre Oxum com impetuosidade.
Uma verdadeira luta se
seguiu. Enraivecido, Xangô trovejou sua fúria. Oxum e Obá, apavoradas, fugiram
e transformaram-se em rios. Até hoje, as águas destes rios são tumultuadas e
agitadas no lugar de sua confluência, em lembrança da briga que opôs Oxum e Obá
pelo amor de Xangô.
FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas
africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.
FONTE DA IMAGEM: http://batuquedosorixas.blogspot.com.br/2013/01/qualidades-de-oba-no-candomble.html
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