quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

“DEUS NÃO É CRISTÃO”

Por Thonny Hawany

Ainda lendo a matéria “Ser gay é pecado?”, escrita por Cynara Menezes na Revista Carta Capital, resolvi trazer para dialogar comigo nesta postagem o arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984. O título desta postagem é parte do título do livro que o arcebispo lançou em março deste ano, conforme informou a Revista Carta Capital em sua matéria.

Desmond Tutu sempre foi um religioso bastante polêmico em face de seu trabalho em favor das minorias. Sua autoridade mundial concedeu-lhe algumas licenças e permissões para falar o que pensa, da forma como pensa. E ele fala!

Para Tutu apud Cynara Menezes, “a perseguição contra homossexuais é uma das maiores injustiças do mundo atual, comparável ao aphartheid contra o qual lutou na África do Sul”. Eu diria mais, a perseguição atual é, possivelmente, tão cruel quanto aquela feita por Adolpho Hitler nos campos de concentração nazista. Se as Nações mundiais não desenvolverem políticas públicas de proteção LGBT urgentes, o número de mortes por homofobia incitadas por religiosos literalistas e líderes neonazistas poderá chegar a cifras alarmantes nos próximos anos.

“O Jesus que adoro provavelmente não colabora com os que vilipendiam e perseguem uma minoria já oprimida”. Ainda para Desmond Tutu, “todo ser humano é precioso. Somos todos parte da família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e trangêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são”.

As palavras do arcebispo Desmond Tutu bastam por si só. É preciso limpar os governos, as instituições, as igrejas de homens que não avançam com a sociedade. Esses tais falsos profetas são perniciosos para o desenvolvimento da humanidade e do planeta como um todo. Usam da palavra de Deus para criarem redutos poderosos de sustentação de si mesmos e de seus interesses obscuros e demoníacos.

Ouçam, com atenção, e verão ecoar nas vozes desses fundamentalistas religiosos e neonazistas os carniceiros de outrora que a história tenta enterrar, mas, em vão, segue.

Salientamos ainda que a Igreja Anglicana, nos Estados Unidos foi a primeira a ordenar um bispo homossexual. Segundo informou a própria ela mesma, o bispo não foi ordenado por ser gay, mas por sua competência e importância frente ao ministério.

No Brasil, os anglicanos são aproximadamente 60 mil. Segundo a matéria de Carta Capital “a Igreja Episcopal Anglicana realizou, em 2001, a primeira consulta nacional sobre sexualidade, quando seus fiéis decidiram rejeitar ‘o princípio da exclusão, implícito na ética do pecado e da impureza’ e fazer uma declaração pública em favor da inclusividade como ‘essência do ministério encarnado de Jesus’”. Sem querer ser redundante e já o sendo, não podemos nos esquecer que os anglicanos estão entre os primeiros religiosos a divulgarem documento de apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal em equiparar a união estável entre pessoas do mesmo sexo àquela já prevista para homens e mulheres.

Em face do exposto, sentimos que estamos avançando em nossa luta e que ela não é só nossa. É de todos os que acreditam numa sociedade digna, justa e igualitária como as altas autoridades religiosas e estatais que tomaram para si parte da luta contra a discriminação de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

Essas outras vozes que bradam e ornejam contra parte da humanidade, na tentativa de criar cisões, fazem-no por ignorância e por puro despreparo para a vida. Esses são homens de um livro só. Como dizia Geraldo Tibúrcio, um grande mestre que tive numa das especializações que fiz: “tenham medo do homem de um livro só”. Só agora entendi o que ele queria dizia com tanta ênfase.

 

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