quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

RIVALIDADE ENTRE ORUNMILÁ E OSSAIN

Orunmilá (Elerin Ipin), o testemunho do destino dos seres humanos, está precisando de um criado. Ele vai ao mercado e, entre os escravos que estão à venda, ele escolhe Ossain.

Manda-o desmatar o campo para preparar as novas plantações. Entretanto, para desespero de Orunmilá, Ossain volta à noite, sem ter cumprido sua ordem.

Orunmilá lhe pergunta por que ele nada fez. Ossain lhe responde: "Todas estas plantas, estas folhas e estas ervas têm virtudes.Elas não podem ser destruídas.

Esta folha, por exemplo, acalma as dores de dentes; esta outra, protege contra os efeitos de trabalhos maléficos; esta outra, ainda, cura a febre. Impossível, em verdade, arrancar plantas tão necessárias à saúde e a felicidade!"

Orunmilá impressionado, decide que Ossain deverá, a partir de então, permanecer ao seu lado durante as sessões de adivinhação, para guiá-lo na escolha dos remédios que deverá prescrever a seus consultantes.

Uma surda rivalidade se estabelece, pouco a pouco, entre esses deuses. Ossain, sofrendo por ser mantido em submissão, vangloriava-se de ser mais importante que Orunmilá, pois ele possuía o poder da magia mortal e dos medicamentos que preparava.

Ossain chegou a declarar ao rei Ajalayé que ele viera ao mundo antes de Orunrnilá e, sendo mais antigo, tinha direito a seu respeito.

O rei Ajalayé envia, então, uma mensagem a Orunrnilá. Ele quer saber, entre ele e Ossain, qual o mais importante dos dois. Orunrnilá responde ser ele mais antigo que Ossain.

O rei decide submetê-los a uma prova. Ele os convoca, acompanhados de seus primogênitos. Orunrnilá chega com seu filho, chamado Sacrifício. Ossain apresenta-se com o seu, chamado Remédio.

Os dois serão enterrados durante sete dias. Aquele que sobreviver à provação e responder primeiro, com uma voz clara e forte, ao chamado que será feito, no fim do último dia, verá seu pai ser declarado vencedor.

Duas covas foram abertas. Sacrifício e Remédio foram colocados dentro e as covas foram fechadas.

Orunrnilá, voltando para casa, consultou Ifá. "Meu filho estará ainda vivo, passados os sete dias?" Ifá aconselhou-o a oferecer muito ekuru - um prato saboroso, bolo de feijão, pimenta, um galo, um bode, um pombo, um coelho e dezesseis búzíos da costa.

Orunrnilá preparou a oferenda. Ela foi colocada em quatro lugares: na estrada, numa encruzilhada, diante de Exu e no mercado. Exu exerceu seu poder sobre o coelho sacrificado. Este ressuscitou e cavou um buraco que foi terminar na cova de Sacrifício, o filho de Orunrnilá.

Assim, o coelho levou alimento para ele. Remédio, o filho de Ossain, nada tinha para comer. Mas, ele possuía alguns talismãs que agiam sobre a terra e permitiram-lhe, assim, encontrar Sacrifício no fundo da sua cova.

Remédio pede-lhe comida. Sacrifício responde: "Ah! Como posso eu, filho de Orunmilá, dar-lhe comida, quando há uma disputa em jogo? Tu não vês que assim causarás o sucesso de Ossain, estando vivo para responder ao chamado que será feito no fim dos sete dias?"

Remédio insiste e promete a Sacrifício permanecer calado quando for feito o apelo. Sacrifício, então, dá de comer a Remédio.

E chegou o final da prova. Os juízes chamam o filho de Ossain: "Remédio! Remééédio! Remééééédio! Eles chamam em vão. Remédio não responde. "Bem! Remédio está morto" - concluem eles.

Chamam, depois, o filho de Orunmilá: "Sacrifício !" Imediatamente, escutam um forte sim. Sacrifício está são e salvo! Remédio sai, em seguida, igualmente vivo.

Ossain pergunta ao filho a razão do seu silêncio, quando foi chamado o seu nome. Remédio narra o pacto feito com Sacrifício.

Comida contra silêncio! Este pacto tornou-se provérbio: "Sacrifício não deixa Remédio falar". Significando que sacrifício é mais eficaz que Remédio. Razão pela qual, Orunrnilá tem uma posição mais elevada que Ossain.

FONTE DO TEXTO: VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio, 1997.

FONTE DA IMAGEM: http://www.mundodasmagias.com/orixas/ossanhe/

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