Orunmilá
(Elerin Ipin), o testemunho do
destino dos seres humanos, está precisando de um criado. Ele vai ao mercado e, entre
os escravos que estão à venda, ele escolhe Ossain.
Manda-o
desmatar o campo para preparar as novas plantações. Entretanto, para desespero
de Orunmilá, Ossain volta à noite, sem ter cumprido sua ordem.
Orunmilá
lhe pergunta por que ele nada fez. Ossain lhe responde: "Todas estas
plantas, estas folhas e estas ervas têm virtudes.Elas não podem ser destruídas.
Esta
folha, por exemplo, acalma as dores de dentes; esta outra, protege contra os
efeitos de trabalhos maléficos; esta outra, ainda, cura a febre. Impossível, em
verdade, arrancar plantas tão necessárias à saúde e a felicidade!"
Orunmilá
impressionado, decide que Ossain deverá, a partir de então, permanecer ao seu
lado durante as sessões de adivinhação, para guiá-lo na escolha dos remédios
que deverá prescrever a seus consultantes.
Uma
surda rivalidade se estabelece, pouco a pouco, entre esses deuses. Ossain,
sofrendo por ser mantido em submissão, vangloriava-se de ser mais importante
que Orunmilá, pois ele possuía o poder da magia mortal e dos medicamentos que
preparava.
Ossain
chegou a declarar ao rei Ajalayé que ele viera ao mundo antes de Orunrnilá e,
sendo mais antigo, tinha direito a seu respeito.
O
rei Ajalayé envia, então, uma mensagem a Orunrnilá. Ele quer saber, entre ele e
Ossain, qual o mais importante dos dois. Orunrnilá responde ser ele mais antigo
que Ossain.
O
rei decide submetê-los a uma prova. Ele os convoca, acompanhados de seus
primogênitos. Orunrnilá chega com seu filho, chamado Sacrifício. Ossain
apresenta-se com o seu, chamado Remédio.
Os
dois serão enterrados durante sete dias. Aquele que sobreviver à provação e
responder primeiro, com uma voz clara e forte, ao chamado que será feito, no
fim do último dia, verá seu pai ser declarado vencedor.
Duas
covas foram abertas. Sacrifício e Remédio foram colocados dentro e as covas
foram fechadas.
Orunrnilá,
voltando para casa, consultou Ifá. "Meu filho estará ainda vivo, passados
os sete dias?" Ifá aconselhou-o a oferecer muito ekuru - um prato saboroso, bolo de feijão, pimenta, um galo, um
bode, um pombo, um coelho e dezesseis búzíos da costa.
Orunrnilá
preparou a oferenda. Ela foi colocada em quatro lugares: na estrada, numa
encruzilhada, diante de Exu e no mercado. Exu exerceu seu poder sobre o coelho
sacrificado. Este ressuscitou e cavou um buraco que foi terminar na cova de
Sacrifício, o filho de Orunrnilá.
Assim,
o coelho levou alimento para ele. Remédio, o filho de Ossain, nada tinha para
comer. Mas, ele possuía alguns talismãs que agiam sobre a terra e
permitiram-lhe, assim, encontrar Sacrifício no fundo da sua cova.
Remédio
pede-lhe comida. Sacrifício responde: "Ah! Como posso eu, filho de
Orunmilá, dar-lhe comida, quando há uma disputa em jogo? Tu não vês que assim
causarás o sucesso de Ossain, estando vivo para responder ao chamado que será
feito no fim dos sete dias?"
Remédio
insiste e promete a Sacrifício permanecer calado quando for feito o apelo. Sacrifício,
então, dá de comer a Remédio.
E
chegou o final da prova. Os juízes chamam o filho de Ossain: "Remédio!
Remééédio! Remééééédio! Eles chamam em vão. Remédio não responde. "Bem!
Remédio está morto" - concluem eles.
Chamam,
depois, o filho de Orunmilá: "Sacrifício !" Imediatamente, escutam um
forte sim. Sacrifício está são e salvo! Remédio sai, em seguida, igualmente
vivo.
Ossain
pergunta ao filho a razão do seu silêncio, quando foi chamado o seu nome. Remédio
narra o pacto feito com Sacrifício.
Comida
contra silêncio! Este pacto tornou-se provérbio: "Sacrifício não deixa
Remédio falar". Significando que sacrifício é mais eficaz que Remédio. Razão
pela qual, Orunrnilá tem uma posição mais elevada que Ossain.
FONTE DO TEXTO:
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. 4.ed. Salvador: Corrupio,
1997.
FONTE DA IMAGEM: http://www.mundodasmagias.com/orixas/ossanhe/
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