quarta-feira, 24 de abril de 2013

PARA ONDE O VENTO LEVOU A MENSAGEM DA PRIMEIRA MISSA?


Moises Selva Santiago (*)

Diz a história que a Primeira Missa no Brasil foi realizada a 26 de abril de 1500. Portugueses exageradamente vestidos para o calor daquela praia baiana rezaram ao lado de índios naturalmente nus. Multicoloridas araras aproveitaram o vento para voar, como que gargalhando da solenidade. Pelas velas infladas, os d’além mar estavam ali com os de cá, todos desconfiados. Haveria vento para os levar – para onde?

Era o domingo de páscoa. Pero Vaz de Caminha testemunhou que o frei Henrique de Coimbra fez a homilia “e pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.”

O frei Coimbra fez o que um pregador da Palavra de Deus precisa fazer em qualquer época. Pregou a história do Evangelho. Aplicou essas verdades à vida cotidiana. Contextualizou o momento histórico. Não se desviou da mensagem da Cruz. Ressaltou a obediência a Deus. E incentivou nos fiéis uma vida de devoção. Uma mensagem com propósito e alvos definidos. Entretanto, o que aconteceu com o cristianismo iniciado na Primeira Missa? Teriam as palavras do frei se perdido na Mata Atlântica? Nas ondas do mar? Nos corações dos curumins? Ou foi o vento que tudo levou?

Na clássica película cinematográfica, o vento conseguiu levar os personagens a caminhos distintos do desejado. Intriga, traição, fome, paixão, recomeço... E nesses cinco séculos, parece que o mesmo aconteceu com os cristãos brasileiros. Sem querer discutir se teria ou não que ser assim, preocupa-me a pregação atual em nossos templos. História evangélica – somente a parte do “pedi e dar-se-vos-á”. Vida pessoal – somente os versículos das promessas de bênçãos. Contextualização do texto bíblico – somente para exigir coisas a Deus. Obediência cristã – somente se for para atender às pretensões egoístas. Devoção a Deus – somente se os atos religiosos agradarem ao gosto pessoal. Realmente, não deveria ter sido esse o eco das palavras de frei Coimbra.

Quando escrevo algo assim, uns ficam desconfiados de minha fé, outros gargalham dizendo que sofro de nostalgia teológica. Mas, não estou sozinho ao rever as pegadas nas areias daquela praia até hoje. Ao atestar os imensos desafios vencidos para a construção do cristianismo “brasileiro” – e em nome dos muitos mártires e dos novos “curumins” – tenho a certeza de que podemos melhorar nossa expressão de fé em Jesus. E conseguiremos isto quando nos púlpitos for pregado o Evangelho de Jesus (e não historietas de auto-ajuda), com aplicações à vida atual (e não blábláblá insosso), incentivando a fé na Soberania Divina (e não parindo insubmissos desrespeitadores preconceituosos). Dessa forma, os fiéis de nossas Igrejas saberão a que vieram a essa Terra e serão verdadeiros servos adoradores sob a sombra da Cruz.

Isso me faz lembrar Jesus quando ensinou que uma casa edificada sobre a rocha suporta todas as tempestades – os ventos fortes! – e não cai. Talvez tenha sido essa a intenção de frei Coimbra: a edificação de um cristianismo sobre a Rocha. Que paga o preço de suportar quaisquer ventos inabalavelmente. Que proclama uma mensagem simples e solene, alegre e reverente, cativante e transformadora. Que proporciona uma reflexão proveitosa sobre a razão de viver. E que anuncia a única pregação para o coração humano, capaz de oferecer remissão pela Graça de Deus.

(*) O autor é jornalista, professor de ensino superior e pastor batista.

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