Por Thonny Hawany
Neste sábado, quando abri o
meu perfil no Facebook, deparei-me com uma postagem, em vídeo, de um suicídio na
cidade de Porto Velho, no Estado de Rondônia. Inicialmente, hesitei em abrir o
vídeo, estático, sem saber do que se tratava exatamente, cliquei sobre o ícone e
assisti à triste cena de um jovem que se jogou de uma dessas torres de
telecomunicação, poucos segundos antes de ser alcançado pelo corpo de bombeiros.
Era Saulo de Assis Lima, de 23 anos, que se lançava para o seu anunciado voo de
liberdade, num bairro também, ironicamente, chamado Liberdade.
Coincidência?
Este foi um dos assuntos
mais divulgados nas redes sociais na tarde de ontem, 20 de abril. Bastava um clique
aqui e outro ali para ver o último voo de Saulo. Gritos,... gritos... Meu
Deus!... Meu Deus... Um vozerio total, um corre-corre banal,... Um voo simples,
desajeitado, cambaleante, trôpego... “Ai meu Deus, ó senhor”, orava uma mulher não
acreditando no que viu. O corpo de Saulo estendeu-se ao chão. Era tarde demais para
salvá-lo do suicídio.
Num contraste entre a
melodia e a cena, Saulo parecia uma criança embalando-se num parque de
diversões. Ele só queria se fazer ouvir diante de todos,... Saulo subira no
cume mais alto para externar seu último grito de socorro. Ele não aguentava
mais. A dor do preconceito que sentia por ser homossexual e, como se não
bastasse, por ainda ser portador do vírus HIV, era maior que sua vontade de viver. Saulo queria
experimentar um mundo novo e assim o fez: voou para uma vida nova!
Sei que muitos gostariam que eu enfatizasse em minhas
palavras o fato do abandono da família, ventilado nas palavras da professora.
Seria penalizar demais essa família que acabara de receber a maior de todas as sentenças
pelos atos (não)praticados: o fim trágico do filho Saulo.
No testemunho da professora
está o vazio da escola, da sociedade, da família, da igreja na vida do Saulo. Foi
este vazio o vilão que o conduziu ao seu voo de partida em busca da tão sonhada
liberdade.
Não atiremos pedras em
Saulo!... Não atiremos pedras nos que abandonaram Saulo porque as pedras
poderão voltar em nossa direção. Por mais que tenhamos feito, ainda estamos
fazendo pouco demais para extirpar, de uma vez por todas, do seio da sociedade,
o câncer da falta de amor ao próximo.
Para Saulo de Assis Lima, as
nossas orações. Para a família, as condolências, para os saulos que ainda não
levantaram voo, um pedido de socorro ao Brasil: que sejam intensificadas as
políticas públicas em favor das minorias que, infortunadamente, cortam na
própria carne a dor do abandono, do desrespeito, da desigualdade e da falta de
dignidade humana.
Irmãos e irmãs, a luta em favor dos Direitos Humanos de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, índios, negros,
estrangeiros, mendigos, crianças, idosos e outros deverá ser, infinitamente,
maior que os percalços encontrados no caminho. Será preciso, sempre, suportar e
combater o veneno do preconceito, até a última gota, para o rigozijo em face da
vitória. Que Saulo nos leve a intensificar a luta contra a vilania em face de um mundo mais igual, mais feliz, mais
digno.
Fontes:
Facebook, Site Rondônia Agora
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