Por Thonny Hawany
Para
refletir sobre os conceitos mais profundos da prosódia de uma língua, é preciso
antes esclarecer dois conceitos que julgamos importantes para que as
proposições futuras sobre o assunto fiquem claras. São eles: entonação e
acentuação. A entonação é o nome que
se dá à intensidade com que um indivíduo pronuncia as sílabas de uma palavra.
Trata-se, portanto da variação de intensidade que se emprega ao falar. A acentuação define-se como sendo o ato
de acentuar palavras na fala ou na escrita.
Existem
dois tipos de acentuação: a tônica e a gráfica. A acentuação tônica é a que determina
qual sílaba de uma palavra, com mais de duas sílabas, deve ser pronunciada com
maior intensidade. A acentuação gráfica está relacionada com a colocação (ou
não) de sinais diacríticos sobre as vogais para determinar, na fala, que sílaba
deve ser pronunciada com maior ou menor intensidade.
Cabe
ainda lembrar que os dois conceitos estão intimamente ligados, visto que a
acentuação gráfica ajuda a compreender como se deve entonar as sílabas de uma
palavra. A acentuação garante a melodia da palavra, da frase e da língua como
um todo.
Havendo feito os esclarecimentos preliminares, passemos,
pois, ao objeto deste texto que é a acentuação e a entonação das palavras no
idioma yorùbá.
Diferente das mais conhecidas línguas do planeta, o
yorùbá tende a acentuar, graficamente, mais de uma sílaba das palavras que
compõem o seu vernáculo.
A acentuação gráfica do yorùbá, além de informar a
intensidade que deve ser utilizada na pronúncia das sílabas de uma palavra,
também pode indicar a diferença de significado existente entre dois ou mais signos
linguísticos com grafias semelhantes. Neste caso, o acento não tem função demarcadora
da entonação, mas de diferenciar os significados das palavras. Em português,
chamamos esse fenômeno de acento diferencial.
Como exemplo de acento diferencial em yorùbá, tomemos as
palavras àṣẹ́, aṣẹ́ e àṣẹ. Da esquerda para a direita, a
primeira palavra (àṣẹ́) significa
menstruação, a segunda (aṣẹ́)
significa coador e a terceira (àṣẹ)
significa o poder emanado dos òrìṣà (divindade cultuada pelo povo yorùbá). Assim
sendo, o uso indevido da acentuação gráfica pode causar dúvidas, ruídos e, por
que não dizer: até constrangimentos.
Os acentos gráficos usados na língua yorùbá são: o agudo
(´); o grave (`) e o til (~), este último encontrado, segundo alguns autores,
na escrita antiga, como se pode ver na grafia da palavra ãṣẹ̀ (porta larga) que, mais tarde, passou a ser escrita com duplo
“a”, assim: ààṣẹ̀. No idioma yorùbá, há também as sílabas sem nenhum acento e
que devem ser pronunciadas com entonação média.
A não observação dos acentos das palavras do yorùbá tem
provocado traduções absurdas de textos escritos nessa língua, especialmente,
daqueles usados na ritualística religiosa.
Os acentos gráficos (ou a falta deles) para denotar a
forma como devemos (ou não) pronunciar as sílabas e as letras da língua yorùbá podem
ser classificados da seguinte forma:
O acento agudo (´) é aquele
que indica sempre a sílaba (ou as sílabas) que devem ser pronunciadas com maior
intensidade nas palavras. Vejamos! Na frase: Bàbá mi ni àìdá (Meu pai é severo), a palavra bàbá possui dois acentos: o grave que indica a sílaba menos intensa
e o agudo que indica a sílaba mais intensa, ou seja: a sílaba com maior
tonicidade e, por isso, deve ser entonada mais fortemente. A palavra àìdá tem dois acentos graves e um agudo,
ou seja, duas sílabas de intensidade fraca e uma de intensidade forte.
O acento grave (`),
como já vimos, serve para marcar a entonação mais fraca de uma sílaba numa
palavra. Na expressão: mo júbà (meus
respeitos), a sílaba de entonação mais forte é “jú” e não o “bà” como se vê, na
prática, na maioria das casas de Candomblé.
A falta de acento sobre as vogais também é informação prosódica em yorúbá. Quando a sílaba não tem acento, isso significa que deve ser pronunciada com média intensidade em relação às demais que podem ser de forte ou de fraca intensidade. Vejamos! Na frase: Èsú ni Olúwa mi. (Exu é o meu senhor.), a palavra olúwa tem três sílabas: o-lú-wa. Nitidamente se pode notar que duas dessas sílabas não têm nenhum acento, por isso devem ser pronunciadas com entonação média em relação à outra. Há casos em que há três entonações diferentes numa só palavra. Veja o que ocorrer em Adùpẹ́ ọrẹ́ mi! (Obrigado meu amigo), a palavra a-dù-pé tem três sílabas e cada uma delas com uma intensidade diferente: média, baixa e alta consecutivamente. Assim sendo, a referida palavra deve ser lida: aduPÉ.
A falta de acento sobre as vogais também é informação prosódica em yorúbá. Quando a sílaba não tem acento, isso significa que deve ser pronunciada com média intensidade em relação às demais que podem ser de forte ou de fraca intensidade. Vejamos! Na frase: Èsú ni Olúwa mi. (Exu é o meu senhor.), a palavra olúwa tem três sílabas: o-lú-wa. Nitidamente se pode notar que duas dessas sílabas não têm nenhum acento, por isso devem ser pronunciadas com entonação média em relação à outra. Há casos em que há três entonações diferentes numa só palavra. Veja o que ocorrer em Adùpẹ́ ọrẹ́ mi! (Obrigado meu amigo), a palavra a-dù-pé tem três sílabas e cada uma delas com uma intensidade diferente: média, baixa e alta consecutivamente. Assim sendo, a referida palavra deve ser lida: aduPÉ.
Em
face do exposto, afirmamos que entender o funcionamento dos sinais diacríticos
da língua yorùbá, especialmente aqueles relacionados à acentuação gráfica,
constitui condição primordial para a compreensão da pronúncia correta das
palavras a fim de promover uma comunicação livre dos ruídos e dos equívocos.
REFERÊNCIAS:
BENISTE, José. Dicionário yorùbá português. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BENISTE, José. Òrun àye: o encontro de dois mundos. 4.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
FONSECA JÚNIOR, Eduardo. Dicionário yorùbá português. São Paulo: Civilização Brasileira, 1988.
OLIVEIRA, Altair B. Cantando para os orixás. 4.ed., Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
PORTUGAL FILHO, Fernandez. Guia prático de língua yorùbá. São Paulo: Madras, 2013.
WIKIPÉDIA. Língua iorubá. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_iorub%C3%A1. Aceso em: 14/07/2015.
BENISTE, José. Dicionário yorùbá português. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BENISTE, José. Òrun àye: o encontro de dois mundos. 4.ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
FONSECA JÚNIOR, Eduardo. Dicionário yorùbá português. São Paulo: Civilização Brasileira, 1988.
OLIVEIRA, Altair B. Cantando para os orixás. 4.ed., Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
PORTUGAL FILHO, Fernandez. Guia prático de língua yorùbá. São Paulo: Madras, 2013.
WIKIPÉDIA. Língua iorubá. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_iorub%C3%A1. Aceso em: 14/07/2015.
EM TEMPO: Este material faz parte de uma pesquisa bibliográfica e de campo que estamos fazendo sobre o uso da língua yorùbá nas comunidades de terreiro, nas cidades de Por Velho e Ariquemes, no Estado de Rondônia.
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